5 eventos determinantes para a semana!
Aquele que alega que os bancos centrais nada podem fazer diante de problemas de oferta como estes ilustrados nas imagens abaixo, não entende que uma das principais funções dos BCs é administrar expectativas.
Nas imagens acima, além dos containers que se acumulam em um porto em Xangai (à esquerda), temos também uma imagem que ilustra o número de navios à espera ao redor dos portos desta região que, atualmente, é o principal centro exportador do planeta.
Jerome Powell vem deixando claro que seu objetivo é trazer a expectativa de inflação anual para níveis próximos a 2%. Para isso, ele diz que talvez seja necessário elevar a taxa de juros para níveis superiores ao que é considerado, neste momento, como uma taxa neutra para o FED FUNDS - um patamar próximo a 2,5% ao ano. Ainda que o "chairman" do FED reconheça que nada possa fazer diretamente para resolver os problemas associados as cadeias de suprimentos globais, ele enfatiza que é papel da autoridade monetária agir de forma preventiva para que as expectativas de inflação não fiquem sem uma devida âncora. Em outras palavras, existe uma premissa que, ao destruir demanda através da elevação do custo do dinheiro, os BCs estarão agindo de forma preventiva, de forma compensatória para manter a expectativa de inflação contida.
O grande teste de resiliência das "Big 7" do S&P 500
Em um passado recente, as "Big 7" do S&P 500 eram as seguintes empresas (em ordem de peso no índice): Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet (Google), Tesla, Meta (Facebook) e Nvidia.
Com o forte declínio no preço das ações da Meta e da Nvidia, estas abriram espaço para que a Berkshire Hathaway e a United Health entrassem em seus respectivos lugares.
No entanto, investidores que no fim de 2021 optaram por comprar as ações das "Big 7" ao invés de comprar os "bonds" de longo prazo dos EUA, tomaram uma boa decisão em termos relativos. Afinal, basta olharmos para o ETF TLT (títulos do tesouro dos EUA de longo prazo) para vermos que, por lá, o massacre foi ainda maior.
Acima, temos o comportamento do ETF VOOG -- que inclui as principais empresas de "growth" do S&P 500 -- comparado ao comportamento do TLT durante os últimos 6 meses. Observe que o TLT caiu 17% enquanto o VOOG caiu 12%. No entanto, observe que o preço das ações da Apple subiu durante o período (+9%). Já o preço das ações da Microsoft caiu junto com as ações contidas no VOOG (-12%).
Momento de decisão -- 5 eventos determinantes para a semana
Chegamos em um momento de decisão para o investidor. Com a escalada na taxa de juros dos títulos do tesouro dos EUA, temos agora uma situação diferente; uma em que a renda fixa passa a ser uma importante fonte de competição para a renda variável. Não víamos este tipo de arranjo há bastante tempo.
Sendo assim, esta semana que se adentra é uma que tende a ser volátil por diversas razões.
Abaixo, busco discutir alguns temas que deverão fazer preço nos mercados nos próximos dias:
- Guerra cambial na Ásia
Um dos eventos mais importantes nos últimos dias foi a desvalorização na moeda chinesa. Há quem diga que a China está respondendo a forte valorização vista no Japão (-10,40%) e na Coreia do Sul (-4,1%) ao longo deste ano de 2022.
O fato é que assinantes da Gavekal estão cansados de saber que quando a China desvaloriza sua moeda ela exporta "deflação" mundo afora; algo que tende a derrubar o preço das commodities globais. E se esta tendência se intensificar, isso tende a ser péssimo para as exportadoras de commodities brasileiras. Não é à toa que as ações da Vale vêm sofrendo tanto nos últimos dias.
Caso esta guerra cambial se intensifique é provável que ela venha impactar os mercados de renda variável de uma forma ainda mais severa. Afirmo isso, pois, conforme venho discutindo em meus comentários recentes, as empresas de tecnologia dos EUA são as mais expostas a uma valorização do dólar. Elas geram mais de 50% de suas receitas fora dos EUA. Assim, um dólar mais forte tende a reduzir a lucratividade destas empresas, deixando-as com um "valuation" ainda mais vulnerável.
Além disso, uma maior desvalorização da moeda chinesa deverá afetar negativamente um dos principais "hedges" do mercado - as ações das empresas produtoras de commodities. Aqui, vale lembrar que durante o ano de 2018, tivemos a combinação de aperto monetário nos EUA junto com forte desvalorização da moeda chinesa. O resultado foi um ano em que praticamente todas as classes de ativos performaram mal, com exceção do dólar americano. Veja abaixo a performance de diversas classes de ativos entre os dias 29-jan-2018 e 5-dez-2018:
2. "Lockdowns" em Xangai
A grande dúvida neste quesito tem a ver com as decisões que serão tomadas nos próximos dias. Há quem diga que o governo chinês tende a estender os "lockdowns" por mais um mês. Caso isso ocorra, teremos mais um choque nas cadeias de suprimentos globais.
Neste momento há indícios de falta de caminhoneiros na região. Há relatos de que os motoristas chineses estão dormindo em seus próprios caminhões e que buscam evitar, de todas as maneiras, ficar presos em um esquema de quarentena.
Assim, temos uma situação de caos nos portos que, na atualidade, são os principais portos do mundo.
3. Eleição na França
Louis Gave vem nos chamando atenção a um possível risco de cauda associado a este evento. Diz ele que, caso uma vitória de Le Pen se confirme (um evento improvável), é possível vermos um declínio defensivo nas taxas de juros globais e uma forte valorização do dólar frente ao euro. Tal evento seria um importante evento de RISK OFF nos mercados.
4. Sanções adicionais a Rússia (Oil & Gas)
Será que os políticos europeus irão sucumbir as fortes pressões da população e impor sanções a importação de petróleo e gás natural vindos da Rússia?
Caso isso se materialize, é possível que as consequências sejam similares a uma eventual vitória de Le Pen na França, produzindo assim um forte movimento de RISK OFF nos mercados.
Neste cenário, entretanto, é possível que o preço do petróleo venha subir de forma expressiva. Marko Kolanovic - estrategista no JP Morgan - escreveu na semana passada que o preço do petróleo tende a negociar ao redor de 180 dólares/barril caso os europeus decidam caminhar nesta direção.
E, falando sobre a Rússia, não posso deixar de mencionar a recente valorização do rublo que já negocia abaixo do patamar de 80 rublos por dólar. No vídeo que gravei (o gambito russo) exploro este tema em maiores detalhes.
5. Resultado da Apple e da Microsoft
Na próxima quinta-feira (28/4), aquela que é a empresa mais valiosa do mundo e que está na carteira de quase todos os fundos (ativos e passivos) e de quase todas as pessoas físicas ("most widely held stock of the moment") divulgará seu resultado do primeiro trimestre de 2022. Historicamente, o trimestre sucede o lançamento de um novo Iphone tende a ser mais desafiador.
Já a Microsoft - segundo maior peso no S&P 500 - divulga seu resultado do primeiro trimestre de 2022 nesta próxima terça-feira, dia 26/4.
Os investidores estão na defensiva após as recentes quedas vistas no preço das ações da Meta (Facebook) e da Netflix. No gráfico abaixo, comparo o preço das ações da Apple ao preço de diversas empresas e ETFs.
Pode-se avaliar o gráfico acima em blocos:
O primeiro bloco mostra a performance dos últimos 6 meses do EWZ (+16%), da Apple (+9%) e da TESLA (+9%). Já o segundo bloco, nos mostram quedas próximas a 15% no período para as ações da Microsoft, Google e do ETF TLT. Já no terceiro bloco temos os micos: Meta (-43%), o ETF KWEB (China Tech) (-52%) e Netflix (-68%).
Adicionando as tensões, temos relatos de uma discussão entre Elon Musk e Bill Gates, onde Musk se mostra extremamente defensivo ao saber que Gates mantém uma posição vendida a descoberto em ações da TESLA.
Concluo este texto resgatando uma anedota do ano 2000, de um momento que antecedeu o estouro da bolha do Nasdaq. Naquela ocasião, foi o próprio Bill Gates quem surpreendeu o mercado ao dizer que o preço das ações de sua Microsoft estava simplesmente elevado demais. Aquele momento foi um marco que, junto com o aperto monetário do FED e anúncio da fusão entre Time Warner e AOL, contribuíram para o início de um forte SELL OFF nos mercados.
Marink Martins / MyVOL
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