À beira de uma profunda recessão

12/07/2022

O maior bloco econômico do mundo - a União Europeia - vive uma crise profunda. Por lá, além da crise energética, temos também uma crise de alimentos e uma intensificação de movimentos migratórios oriundo do norte da África.

A essa altura já é conhecimento de quase todos de que o euro está na paridade com o dólar americano. O saldo da balança comercial da grande máquina exportadora alemã virou negativo! Tudo isso devido ao elevado custo da energia.

Há relatos de que o povo europeu não apoia a postura dos governantes. Como diz Louis-Vincent Gave, fundador da Gavekal, "os americanos irão lutar contra os russos até que o último cidadão europeu jogue a toalha". E parece que os cidadãos europeus já começam a protestar publicamente diante do racionamento de energia que se faz necessário.

Neste curto prazo, a pergunta do momento é a seguinte: até onde vai o DXY ("dollar index")? Nesta segunda-feira -- este indicador que mede o valor do dólar americano em relação a uma cesta de moedas (com destaque para o euro com um peso entre 55% e 60%) -- atingiu o patamar de 108.46 pontos. No texto de ontem falei sobre o impacto da alta no DXY na lucratividade das empresas do S&P 500. Hoje, quero explorar aqui um fator não quantitativo.

Caso o DXY continue subindo, me parece que há um ponto em que os cidadãos europeus, japoneses, sul coreanos e de outros povos vulneráveis a alta no preço das commodities passarão a ter uma postura antagonista ao dólar e ao seu emissor (EUA).

No momento, um dólar forte não só ajuda os americanos no combate à inflação, mas também sustenta os investimentos de estrangeiros nos EUA. Não é à toa que a ação da Apple e de outras empresas de tecnologia subiram tanto na semana passada.

Venho explorando a tese de que Biden -- em um ato de desespero -- deseja provocar uma crise global, mesmo que tal fenômeno resulte em uma derrocada no preço dos ativos americanos. Trata-se de um "blame game" (colocar a culpa em algum agente, país, ou evento).

É tempo de tratar o poderoso dólar como uma importante arma. Este é um dos temas mais debatidos dentro da Gavekal -- "Weaponization of the dollar".

De repente, com 1 USD = 1 EUR, volto a me preocupar de forma séria com a possibilidade de uma crise global em que as correlações disparam junto com a volatilidade implícita dos derivativos. Está certo que o VIX a 26,17% não indica nem de perto este meu receio. Mas saiba que o VIX de hoje é um ativo negociável e já não traz consigo o poder de previsão de outrora.

Por tudo isso, deixo aqui a definição de VOL apresentada por um dos maiores especialistas na área - Chris Cole, da Artemis Capital Management:

"Volatilidade não é uma medida de medo. Volatilidade não é o indicador VIX. Volatilidade não é uma estatística ou um desvio padrão, ou qualquer coisa derivada de uma fórmula abstrata. Volatilidade está presente nos mercados assim como na vida. Independente da forma como você a meça, a volatilidade reflete a diferença entre o mundo conforme imaginamos ser e aquele que na verdade é!"

Confesso que adoro esta definição de Chris Cole. Julgo-a poética. Complemento a sua definição com a seguinte colocação fruto da minha própria experiência como trader de VOL: esta diferença entre o mundo imaginado e o real tende a ser ampliada em momentos de baixa liquidez nos mercados. O risco de falta de liquidez é um dos riscos mais subestimado pelos agentes.

Para finalizar, reitero algo que disse na semana passada: pensando em uma distribuição gaussiana (aquela conhecida como distribuição normal, em forma de sino), estamos na cauda! E na cauda só devemos ter uma preocupação: se manter vivo!

Marink Martins

www.myvol.com.br