A briga por vagas no Conselho de Administração da Exxon e suas repercussões globais

27/05/2021

Ontem foi um dia importante nos mercados. O principal evento esteve relacionado a uma batalha capitaneada pelo fundo "Engine #1" -- detentor de somente 0,02% das ações da Exxon -- mas que, mesmo assim, através do apoio de grandes acionistas como BlackRock, Vanguard e outros, conseguiu emplacar duas das 13 vagas no Conselho de Administração da petrolífera Exxon. 

A relevância desta iniciativa está relacionada ao fato de que o representante da Engine #1 exige que a gigante petrolífera acelere o seu processo de descarbonização. A resistência era grande, mas no fim, em meio a uma tremenda "proxy fight" (batalha societária em que acionistas delegam seus poderes de voto a outros representantes), o resultado representou uma tremenda vitória para a turma alinhada com as causas ESG.

E é justamente por isso que compartilho um texto que escrevi em maio de 2017, onde explorei semelhanças entre a Petrobras e a Telemar. É interessante voltar no tempo e ver algumas das previsões feitas na ocasião. O grande professor da Universidade de Stanford, Tony Seba, acertou na queda do preço das baterias, mas errou feio na magnitude de sua previsão a respeito do declínio no uso dos automóveis. De qualquer forma, julgo que estas questões ESG tendem a impactar, de uma forma ou de outra, quase todos os ativos listados.

No caso das petrolíferas, vale destacar que suas reservas equivalem a 3.000 gigatoneladas de CO2. Tom Raftery, diretor de inovação da SAP, nos diz que o limite para que evitemos que o aquecimento global vá além de 1,5 graus centígrados, é de 1.000 gigatoneladas de CO2. Sendo assim, o investidor sagaz já deve sentir o cheiro de uma eventual baixa contábil ("impairment") em um futuro não muito distante.

Marink Martins


Publicado em 26/5/2017

Há semelhanças entre a Petrobras de 2017 e a Telemar (Oi) de 2003?

Começo este Comentário com uma pergunta um tanto provocativa pois sabemos que o desfecho da antiga Telemar, hoje Oi, não foi nada favorável. A princípio esta comparação pode parecer um tanto esdrúxula, porém, para um "trader" de opções veterano (com muitos cabelos brancos, se é que sobrou algum!) chega a ser um tanto natural, pois a primeira ocupa o lugar que já foi da segunda, como a empresa que detém a maior liquidez no mercado de derivativos de renda variável na bolsa brasileira.

A comparação não para por aí. Ambas se tornaram empresas bem endividadas, e passaram por um bom tempo mal geridas; a Petrobrás por uma administração marcada por corrupção, enquanto que a Telemar por um grupo de controladores problemáticos. Entretanto, a principal semelhança que desejo argumentar está relacionado a ataques disruptivos, que no caso da Telemar foi fatal, e no caso da Petrobrás também poderão ser, caso algumas das previsões feitas recentemente se materializem.

Explicando melhor... Em 2003, o usuário de telefonia no Brasil deu início a um movimento de migração para a telefonia móvel que se provou cruel demais para a Telemar (Oi). A empresa demorou muito a reagir e a se adaptar à nova realidade. Quando acordou, já era uma empresa que, além de endividada, não desfrutava da mesma fatia de mercado que uma vez dominara.

Já a Petrobrás de 2017, embora pareça em um processo de franca recuperação operacional, depende muito do preço de um produto que tende a perder importância nos próximos anos diante do iminente uso de novas tecnologias disruptivas como carros elétricos autônomos. Tony Seba, professor da Stanford e co-fundador da RethinkX, foi destaque esta semana na mídia norte-americana ao dar detalhes de sua pesquisa na qual prevê que o uso desta nova tecnologia irá provocar uma queda de 70% na produção de automóveis a partir de 2021. Tony Seba vai além, e diz que o custo por milha rodada irá despencar, uma vez que o tempo médio de utilização de veículos irá subir de 4% para 40%.

Uma outra consequência prevista em seu estudo é a obsolescência dos estacionamentos. Como exemplo, ele cita que o espaço dedicado a estacionamentos na cidade de Los Angeles equivale ao tamanho de três cidades do tamanho de São Francisco. Pelo visto, se Tony Seba estiver parcialmente certo, o processo de disrupção tende a ir bem além da Petrobras, com consequência maléficas em vários outros setores.

Ontem, em evento sobre petróleo realizado pela Reuters, tive a oportunidade de perguntar a um "expert" sobre o assunto, e sua resposta foi a mais comum: a de que isso deve ocorrer bem mais à frente (talvez mais próximo de 2030), e de que o petróleo tem diversas funções na economia, além do transporte. Entretanto, é possível que nesta resposta haja um certo grau de negação. Digo isso, pois o mercado de petróleo atual mostra um elevado grau de nervosismo diante de discussões se a OPEP irá ou não manter o corte de aproximadamente 1,5 milhões de barris em um universo de produção diária de aproximadamente 95 milhões de barris. Imaginem a consequência se uma destas disrupções, capitaneadas por empresas inovadoras e capitalizadas como a Tesla, a Apple, a Google e a Amazon, provocar um corte na demanda por petróleo na faixa de 10%. Isso poderá levar o preço do barril de petróleo para um patamar onde a Petrobras poderá se parecer em muito com a Telemar (Oi).

Marink Martins, CNPI

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