A turma dos surpreendidos

17/02/2022

Edvard Munch: Taken by Surprise

Há semelhanças entre o mais recente movimento de valorização no Ibovespa e aquele ocorrido ao longo do primeiro semestre de 2016. Em comum, temos o fator surpresa que deixou muitos investidores e fundos locais, não só surpresos, mas também com uma grande defasagem em relação ao "benchmark" local.

Lembro-me bem daquele movimento em que o IBOV subiu rapidamente de 42.000 pontos para 50.000 pontos. Tudo se passava em meio a um caos na economia local. Em janeiro daquele ano, fiz uma apresentação na Casa do Saber Rio, junto com o autor Ivan Santana, em que eu (seguidor fiel do economista do ex-economista chefe do Credit Suisse -- Nilson Teixeira) estava extremamente pessimista. A forte alta no preço das ações deixou muita gente "falando sozinho", torcendo como nunca para um movimento de reversão à média.

Com o benefício da história ao meu lado, é fácil falar hoje que a alta vista nas bolsas em 2016 teve como catalisador um grande movimento capitaneado pelos bancos centrais da China, Europa e Japão que, de forma coordenada, resolveram "inflar" a economia global através de um longo processo de recompra de ativos. Tal processo levou as taxas de juros dos títulos globais para a esfera negativa. Fomos de uma política de "zero interest rate policy" (ZIRP) para uma de "negativa interest rate policy" (NIRP).

Mas, e agora? O que dará sustentabilidade ao recente movimento de valorização dos ativos brasileiros? Será o novo pacote de 100 bilhões de reais do governo? Será a retomada no impulso creditício chinês? Ou será que o recente movimento foi uma simples exibição de poder dos "market makers" que atuam no mercado brasileiro? Naturalmente, existe sempre a interpretação de que o preço dos ativos simplesmente estavam muito defasados.

Como os mercados são seres complexos, o mais provável é alguma combinação dos fatores acima e muitos outros que eu nem sequer consigo conceber neste momento. Terei que esperar o tempo passar para encaixar uma narrativa coerente. Dito isso, o que realmente importa para atividade econômica que eu exerço na bolsa é que os fluxos de recursos indicam que há uma transição ocorrendo. Em tempo, tudo ficará mais claro. No curto prazo, porém, o melhor a ser feito é não dar uma de teimoso e ter consciência das minhas limitações.

Lembre-se que, assim como um determinado evento pode ser classificado como um "Cisne Negro" para uns e não para outros, o que parece aleatório para uns é algo sintomático para outros. Os mercados operam em regime de castas no que diz respeito à disseminação das informações. E aí? A que casta você pertence?

Marink Martins

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