A vulnerabilidade europeia e a indexação das carteiras

25/11/2021

Contrariando inúmeras previsões feitas por renomados estrategistas, o dólar americano segue firme e forte. O dólar Index (DXY) se aproxima de 97 e a demanda por ativos norte-americanos persiste, contribuindo para que o S&P 500 se mantenha bem próximo a sua máxima histórica.

Estamos em um momento de mercado em que a participação dos ativos norte-americanos na carteira MSCI global é de aproximadamente 63%. Isto para um país cujo PIB responde por 24% do PIB global (16% quando medido pelo poder de paridade de compra). Assim, em um mundo dominado por repressão financeira (manutenção dos juros reais abaixo da inflação) e indexação de ativos por parte de gestores globais, caminhamos para formação de bolhas e processos piramidais.

Contribuindo para esta dinâmica, temos a Europa enfrentando diversos problemas. Além de um agravamento da pandemia, temos o velho continente dependente do gás natural fornecido pelos russos. Tal combinação vem contribuindo para uma queda expressiva do euro frente ao dólar, impulsionando o DXY e, com isso, afetando negativamente o apetite a risco necessário para atrair capital para os mercados emergentes.

Em um comentário feito hoje por Nick Andrews -- da casa de pesquisa Gavekal -- o analista argumenta que os russos "manobram" com o objetivo de desestabilizar os governos da França e da Itália que enfrentarão uma eleição presidencial em breve (a eleição na França será em abril de 2022). Louis Gave, cidadão francês e fundador da Gavekal, está bastante preocupado diante da possibilidade de Macron ser derrotado em abril. Este não é seu cenário base, mas, mesmo assim, afirma que é uma possibilidade que poderá trazer mais instabilidade aos mercados. Em março de 2020, no início da pandemia, o mundo viu o poder destrutivo resultante de tensões que envolveram uma desavença entre os russos e os árabes.

Diante de tudo isso, e com a China em processo de desaceleração econômica, não resta aos gestores globais continuar a fazer mais do mesmo. Isto é, continuar comprando ativos de "Big Tech" listados nos EUA. E olha que a relação de P/L do S&P 500, medida de acordo com métrica CAPE RATIO do professor Robert Shiller, já está em 40x -- um patamar que só foi atingido uma única vez na história do principal índice americano (em março de 2000 durante a topo da valorização do Nasdaq).

Aos poucos já observamos um movimento "estranho" ocorrendo nos mercados. Ações consideradas "ativos de longa duração" (aquelas que estiveram associadas a narrativas transformacionais) já sofrem bastante. Basta ver o desempenho das ações de empresas como a Peloton, a Zoom Video, e outras. Até o ETF ARK Innovation da Cathie Wood está sofrendo bastante! Vejo um comportamento nas bolsas que me faz lembrar das oscilações registradas durante os meses de agosto e setembro de 2007. Era o início da grande crise financeira que tomou forma um ano depois, em 2008. Vamos monitorando.

Marink Martins

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