3 razões para um maior ceticismo quanto ao IBOV

21/01/2019

Estou de volta com uma visão mais cética para o desempenho de curto prazo do IBOV por algumas razões.

1. O potencial de ganhos de curto prazo não me parece tão atrativo.

Estimativas das principais casas de análise no Brasil apontam para um preço alvo para o IBOV entre 110.000 e 125.000 pontos para o final do ano. O curioso, entretanto, é que, em grande parte, tais estimativas embutem a aprovação de uma reforma da previdência durante o primeiro semestre.

Se considerarmos o patamar de 117.500 pontos como uma média das expectativas, vemos que o potencial de ganhos para a bolsa é de aproximadamente 22%. Agora, se atribuirmos aí uma probabilidade mais conservadora quanto a aprovação da reforma da previdência, este potencial de ganho (ex-ante) é reduzido de forma significativa.

Tentar aqui estabelecer uma probabilidade para aprovação de tal reforma neste exato momento seria uma tolice. Mesmo assim, não devemos sair por aí atuando com uma mentalidade de "já ganhou" enquanto o jogo ainda nem sequer começou.

2. Alta registrada nos últimos meses das ações brasileiras deve manter compradores marginais em compasso de espera.

Observe que nos últimos meses o IBOV surpreendeu a todos e registrou a melhor performance relativa em termos globais. Chegamos a um ponto em que a taxa de risco-Brasil, medida pelo CDS, se aproxima da taxa mexicana sendo que há um enorme diferencial no que diz respeito a classificação de risco entre os dois países.

É verdade que o IBOV exibe enorme "momentum" e quem tem ativos brasileiros parece não querer se desfazer de maneira alguma neste exato momento.

Mesmo assim, existe uma gama de fundos indexados a mercados emergentes que, por uma questão matemática de alocação, terão que vender ativos brasileiros em busca de um enquadramento adequado.

3. Alta probabilidade de elevação no peso das ações chinesas na carteira de mercados emergentes da MSCI.

Há uma enorme expectativa de que o peso atribuído as ações listadas na China continental ("A-shares") ganhem espaço na carteira do "benchmark" MSCI Emerging Markets (EEM) a partir do dia 28/2/2019. Caso isso, de fato ocorra, espere por uma realocação global que fará com que o peso dos demais países seja reduzido, conforme a ilustração abaixo.

Observe na simulação acima como a inclusão de ações "A-shares" provoca uma redução do peso dos demais países na carteira MSCI EM.

Por tudo isso, sugiro que o investidor se torne mais criterioso neste momento em que todos clamam por um IBOV acima de 100.000 pontos.

Não posso me esquecer de uma aposta que fiz durante o período que atuei pelo Banco Bozano, Simonsen com o meu amigo e trader, Dave Sharp,  quanto ao timing em que o índice Dow Jones Industrial Average iria superar o patamar de 10.000 pontos. A aposta era de que o índice não superaria tal patamar antes do fim de 1998.

Estou falando de uma aposta que ocorrera há 22 anos. Na ocasião, por pura intuição, julgava que o Dow demoraria um pouco mais a atingir tal objetivo face ao tamanho otimismo ventilado pela mídia financeira na época.

O fato de eu ter ganhado a aposta é irrelevante. Foi pura sorte. O ponto aqui é que mesmo em mercados altistas, como neste que está em curso por aqui, há momentos em que o mercado exagera. E se você está sintonizado com o dia-a-dia dos mercados, deve ficar alerta para esta possibilidade.

Marink Martins

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