Quando o RABO balança o CÃO!
Escrevi o texto abaixo no dia 8 de fevereiro de 2018, logo após aquele salto na volatilidade global que culminou na quebra de um fundo do Banco Credit Suisse que tinha como foco um produto chamado XIV - Inverse Volatility ETF.
Contudo, este tema, não só permanece atual, mas tende a se fazer presente de uma forma cada vez mais intensa. Estou falando aqui da VOLATILIDADE sendo tratada como um ativo.
Nesta terça-feira, o Wall Street Journal publicou um vídeo enfatizando justamente o argumento que apresento no texto abaixo. Observe que abaixo temos dois gráficos: o do S&P 500 à esquerda e de um fundo que compra VOL (UVXY) à direita. O movimento registrado nos gráficos referem-se a mais recente queda de 7% registrada no índice S&P 500. Enquanto o índice caia, o fundo comprado em VOL se valorizava.
Será que o fundo pode se tornar grande o suficiente de forma que o seu comportamento passa a influenciar o próprio mercado?
Quando o RABO balança o CÃO!
Em uma época distante, quando os empregos mais disputados eram
aqueles associados ao mundo das finanças, os mercados atraíam tudo quanto é
engenheiro. Barack Obama, em seu discurso de posse, chegou a reclamar desta
situação ao dizer que os EUA necessitavam de engenheiros dispostos a atuar como
engenheiros e não como financistas.
Pois é, houve uma época em que a engenharia financeira reinava. A capacidade de desenvolvimento dos financistas era tamanha que os reguladores estavam sempre a uns dez passos atrás. E foi exatamente nesta onda que surgiram produtos como o VIX (uma medida de expectativa de volatilidade associada ao índice S&P 500) e o Credit Default Swap (CDS); este último uma espécie de seguro contra a inadimplência de um devedor. Ambos, não só foram revolucionários, como também deram dinamismo aos mercados.
Quem assistiu ao filme A Grande Aposta já está muito bem familiarizado com os benefícios e os riscos associados ao CDSs. Como ocorre frequentemente com produtos desenvolvidos em Wall Street, tais produtos trazem consigo a semente de sua própria destruição ou, em muitos casos, a semente da destruição do sistema financeiro como um todo. Não fosse pelo resgate do governo americano à seguradora AIG, o sistema financeiro teria entrado em colapso devido as vendas excessivas de CDSs feitas pelo trader Joseph Cassano através da filial britânica da seguradora americana. O grande problema associado a estes produtos é a sua capacidade de deixar, tanto o fornecedor como o consumidor, intensamente viciados.
E o VIX fez exatamente isso. Desenvolvido originalmente para ser "sintoma", este foi transformado em "causa" por financistas de plantão. Deixem eu explicar melhor usando a analogia mencionada no título acima.
Imaginem o mercado de ações como um cão com seu respectivo rabo. Ambos oscilam; o primeiro para cima e para baixo, e o segundo em um gingado particular. O rabo se mexe em uma intensidade que varia de acordo com o gingado do corpo do cão. A intensidade deste balançar é análogo ao papel desempenhado pelo VIX com relação ao comportamento do índice S&P 500. O VIX mede a expectativa da intensidade deste "gingado"!
Aí vem os financistas e desenvolvem um produto no qual investidores podem diretamente fazer apostas na intensidade de tal "gingado". O produto é bom e logo atrai multidões que passam a ganhar dinheiro apostando que o "rabo do cão" tende a balançar cada vez menos. Por anos investidores apostaram em tal produto, de forma que o que era para ser uma consequência, passou a ser uma causa. O balançar do "rabo" passou a ditar o comportamento do "cão"!
Tudo isso pode parecer estranho, mas os derivativos trazem consigo esta capacidade de inversão de papeis.
A intensa venda de ações ocorrida no fim da tarde de segunda-feira foi uma consequência de apostas excessivas em produtos desenvolvidos para que participantes se protegessem de movimentos bruscos nas próprias ações. As perdas nos derivativos se tornaram a causa das perdas nos preços das ações. Algo tão louco que, honestamente, julgo fascinante.
Conforme escrevi ontem, logo foi formada uma força-tarefa dedicada exclusivamente para acalmar os ânimos de investidores assustados. E eles conseguiram. Os otimistas dirão que tudo isso foi pontual e que o ocorrido foi fruto da insanidade de poucos.
Pode até ser que tenha sido mesmo. O que eles não te informam, entretanto, é que o total de contratos derivativos vigentes é tão grande que chegará um ponto em que não saberemos quem realmente deriva de quem.
E pensando nisso te deixo com a seguinte pergunta:
Quem exerce maior influência sobre o preço das ações da Petrobras?
- Os negociadores das ações
- Os negociadores dos derivativos (opções)
Marink Martins
myvol.com.br