"Crowding Out" em todos os sentidos!
Sou da época em que as ações da Telebras reinavam na Bovespa. No começo da minha carreira tive o privilégio de atuar no Banco Bozano Simonsen buscando oportunidades de arbitragem de preços entre as ações negociadas no Brasil e nos EUA. Curiosamente, naquela época (fim dos anos 90) pouco se discutia a respeito dos demonstrativos financeiros da própria Telebras. Tudo que os investidores queriam saber era se a política cambial capitaneada por Gustavo Franco ficaria de pé ou não. Tudo que importava aos traders e investidores eram questões macroeconômicas.
Quase 25 anos já se foram e parece que voltamos aos velhos tempos. O governo brasileiro pratica uma espécie de "Crowding Out" -- um evento em que o governo ocupa um protagonismo inadequado, tomando espaço do setor privado -- que vai além de absorver uma bela parte da poupança nacional que poderia ser melhor utilizada no setor privado. O governo de hoje "rouba" também a atenção dos investidores que, ao invés de se voltarem a estudar as perspectivas de crescimento das empresas nacionais, perdem tempo estudando a respeito da capacidade do governo de cumprir com as suas promessas orçamentárias.
Em matéria publicada hoje no Brazil Journal, Mansueto Almeida -- hoje, economista chefe do BTG Pactual -- nos fala sobre o drama fiscal brasileiro. O problema é antigo e de conhecimento disseminado. Em suma, o economista nos fala sobre a necessidade de que o poder Executivo junto com o Legislativo atuem para rever as despesas obrigatórias do governo brasileiro. Confira a matéria completa ao acessar abaixo.
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O que é curioso é que o governo -- animado com um crescimento do PIB que vem superando as expectativas dos agentes de mercado -- vem pleiteando uma revisão do "rating" da dívida soberana brasileira junto a agências como a Fitch, Moody´s e Standard & Poors. Assim, vivemos um momento em que há uma tremenda dissonância entre a "leitura" da situação econômica do país feita pelo governo e aquela feita pelo mercado.
Ainda que as projeções publicadas no Boletim Focus tenham sido ajustadas, as taxas de juros de prazos mais longos subiram em uma proporção ainda mais alarmante. Chegamos a um ponto em que o diferencial de taxa de juros em um horizonte de 1 ano entre o que é praticado no Brasil e nos EUA atingiu um patamar que reflete pessimismo extremo.
Por esta razão, concluo assinalando que algo terá que ceder nas próximas semanas. Penso que o mais provável seja que o mercado deixe de lado este "pessimismo" excessivo e comece a ter um pouco mais de boa vontade com a tal "matemágica fiscal" brasileira.
Marink Martins