Dessincronização ou manipulação?

04/11/2021

O momento atual é um em que há uma aparente dessincronização entre os ciclos econômicos dos EUA e Europa em relação ao que está em curso ao redor do mundo. Observa-se uma forte elevação no rendimento dos títulos de 2 anos emitidos pelos governos de países como o Brasil, a Rússia, a Austrália, a Nova Zelândia, o Canadá, e outros. Por um outro lado, as taxas destes títulos praticadas nos EUA e na Europa permanecem lá em baixo. Será que há uma dessincronização dos ciclos econômicos? Será que vivemos o início de um ciclo em que EUA e Europa embarcam em um processo de YCC ("yield curve control" ou manipulação da curva de juros)?

As perguntas acima certamente fazem parte de um importante debate. Há quem diga que uma trajetória de YCC nos EUA e Europa é inevitável e resultará em um eventual enfraquecimento de suas moedas. No entanto, esse é um processo que poderá levar meses ou, até mesmo, alguns anos.

O fato é que ao pensar a dinâmica dos índices de ações no curto prazo, observamos que a divergência entre o que ocorre no S&P 500 e no resto do mundo é cada vez mais gritante. Nos últimos 10 dias observamos nos EUA um comportamento análogo ao que foi visto em janeiro deste ano -- um período marcado por um recorde em termos de fluxo de recursos para a renda variável.

Veja que nos últimos dias os "meme stocks" voltaram a ocupar as manchetes. As ações da locadora de automóveis AVIS chegou a disparar 200% em um único dia! Em paralelo -- como podemos ver no gráfico abaixo -- a procura por "CALLs" (contratos de opções de compra) disparou e registrou um novo recorde histórico. Os EUA vivem o que alguns chamam de "CALL Mania"!!!

Está certo que venho falando por aqui que a alta lá fora tem sido impulsionada por fluxo e por sazonalidade. Mesmo assim, "surfar" esta onda de divergência entre S&P 500 e Ibovespa não tem sido nada fácil para mim. Talvez eu esteja me preocupando demais com questões estruturais e deixando de lado o que o mercado chama de "market internals" (indicadores de curto prazo associados ao comportamento dos mercados).

Em momentos assim, o melhor a ser feito é promover um certo distanciamento do mercado. Reduza o tamanho das posições e passe a olhar de uma forma um pouco mais distante. A imagem abaixo ilustra bem o que busco transmitir.

Marink Martins

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