Em meio a uma mudança de paradigma

05/05/2022

Estou entre os que pensam que este conflito entre a Rússia e a Ucrânia é algo bem mais amplo; um afastamento de modelo monetário que vinha privilegiando os emissores de dólar (EUA) e de euros (UE) ao permitir que estes pudessem adquirir commodities pagando em suas próprias moedas.

Nos últimos anos, investidores estrangeiros injetaram trilhões de dólares na economia americana. Boa parte destes recursos foram direcionados à busca de oportunidades em renda variável. O gráfico abaixo nos mostra o saldo da NIIP ("net international investment position" dos EUA) que está por volta de 18 trilhões de dólares com base nos dados de fechamento do ano de 2021. Este número refere-se à diferença entre os valores investidos por americanos em outros países e os valores investidos por estrangeiros nos EUA.


Observe que a NIIP é divulgada pelo "Bureau of Economic Analysis" com um atraso de 3 meses. O gráfico acima reflete o momento de virada do ano em que o índice S&P 500 fechou próximo a máxima histórica, por volta de 4.800 pontos. Sendo assim, o próximo NIIP a ser divulgado no fim de junho deverá trazer um recuo no saldo acima; provavelmente para um patamar mais próximo de -17 trilhões, se considerarmos que a renda variável é o principal fator afetando tal indicador.

O ponto que busco transmitir neste texto diz respeito à minha expectativa de que, apesar da recente valorização do dólar frente às principais moedas de países desenvolvidos, os investidores irão aos poucos retirar recursos dos EUA e direcioná-los para atividades locais.

No gráfico abaixo observamos o volume de recursos depositados no FED em nome de outros Bancos Centrais. É nítida a mudança de paradigma que busco transmitir. Desde o momento em que os EUA começaram a utilizar sua moeda como uma espécie de arma ("weaponization of the USD"), os bancos centrais passaram a depositar um volume de recursos cada vez menor no FED.

Caso esta tese de mudança de paradigma se concretize, é provável que o preço das ações das Big Techs dos EUA sofra de uma forma persistente. Em suma, argumento aqui que não só temos um "vento contra" associado a uma política monetária mais apertada, mas também um "vento contra" no que diz respeito a um processo de repatriação de recursos que deverá ganhar tração nos próximos meses.

Marink Martins

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