Highlights do 8º Congresso Internacional de Mercados Financeiro e de Capitais

28/08/2017

Venho de um fim de semana informativo no qual tive a oportunidade de participar de um belo evento em Campos de Jordão, SP, onde a B3 reuniu um time de primeira linha para discutir diversos temas que vem, não só impactando os mercados, mas também nossas vidas. Teve de tudo; do impacto da lava-jato às perspectivas da tecnologia "Blockchain". Dentre as palestras que assisti, tive o prazer de ouvir e ver de perto os mestres das finanças comportamentais Daniel Khaneman e Dan Ariely. Mas confesso que a que mais me entusiasmou foi a do professor italiano, radicado nos EUA, Luigi Zingales. Autor do livro Saving Capitalism from The Capitalists, eleproveu diversos dados ao defender sua tese de que os EUA não estão indo tão bem quanto os índices de bolsa de valores parecem indicar. Seus argumentos estão ancorados em alguns dados já conhecidos e discutidos no mercado que confirmam uma maior concentração por parte das empresas americanas, algo que vem levando a uma deterioração na distribuição de renda. Para Zingales, os EUA parecem se assemelhar a Itália, e um dos sintomas foi a eleição de um líder que demonstra habilidades típicas de um líder latino. Ele menciona também alguns outros sintomas que devem ser mencionados:

  • Declínio da participação da população masculina no mercado de trabalho de 92% para 89%.
  • Queda no nível de investimentos.
  • Ausência de IPOs relativo ao enorme número registrado na década passada.
  • Declínio no nível de mobilidade social e também do movimento migratório. Aqui, é importante ressaltar que este é um dos pilares da economia americana. Quando se procurava emprego por lá, o esforço era feito em nível nacional. Hoje, de acordo com Zingales, os elevados aluguéis geram enorme aversão, fazendo com que cidades como Nova York e São Francisco se tornem inacessíveis para muitos candidatos.

Em síntese, seu principal argumento é a flagrante tendência a um comportamento não-competitivo preponderante entre as grandes empresas americanas. Zingales demonstra através de "slides" elaborados que as enormes fusões e aquisições do passado não resultaram em maior produtividade, e sim, em maiores níveis de margens operacionais. A minha admiração por sua palestra certamente advém do fato de seu conteúdo confirmar um tema que venho discutindo ao longo dos últimos meses: o efeito vencedor (ou "the winner takes all effect"). As empresas americanas estão cada vez maiores e as novas tecnologias contribuem para um mundo que deixa de ser dominado pela média para um mundo dominado por poucos gigantes e muitos anões. Não é por acaso o declínio no número de IPOs por lá. Uma das mais recentes a ir ao mercado, a SNAP, é considerada como uma empresa que pode ser facilmente dizimada por sua concorrente, a gigante Facebook. Por falar na gigante da mídia social, Zingales concluiu sua palestra dizendo que há rumores de que seu fundador, Mark Zuckerberg, é considerado como uma séria aposta para a próxima eleição presidencial americana. Diz ele, "no caminho para se tornar um país latino, lobbying passou a ser a principal atividade dos conglomerados americanos".

Embora o elevado nível dos mercados não tenha sido um tema diretamente abordado pelo palestrante, seus argumentos ratificam a tese de maior resiliência das gigantes americanas, representadas pelo índice S&P 500. A combinação de margens elevadas, ampla liquidez, e menor concorrência, podem até não ser saudável para a continuidade doSonho Americano, mas certamente fornece mais confiança aos investidores latinos de que o entusiasmo com mercados emergentes como o do Brasil tende a durar por um bom tempo.

Amanhã falarei de Khaneman e Ariely.

Marink Martins, CNPI

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