Impulso em meio ao vácuo corporativo

27/06/2022

Por vezes, contamos com a sorte e ela é mais que bem-vinda. Na sexta-feira, publiquei o texto "S&P 500: possível "puxadinha" à frente!" as 4 horas da manhã e, de forma serendíptica, vimos o principal índice americano subir mais de 100 pontos. Dentre os argumentos apresentados, chamei atenção de dois importantes:

1. Há a percepção de que estamos transitando de uma crise de liquidez para uma com características de recessão! Texto "Uma transição relevante", publicado no dia 21/6.

Observe que as taxas de juros nos EUA recuaram de forma significativa nesta semana. Em particular, nesta quinta, a divulgação de índices PMIs relativamente fracos sugeriu que o cenário recessivo delineado tanto por Bill Dudley (ex-FED de NY) e por economistas da Gavekal parece estar ganhando tração.

2. Há a percepção de um "vácuo" no noticiário corporativo nos EUA entre hoje e o início do processo de divulgação de resultados do 2T22 (em 3 semanas).

Tal "vácuo" combinado com uma redução nas expectativas de alta nos contratos futuros de "FED FUNDS" contribuem para uma maior probabilidade de "pump & dump" (puxadinha) nas próximas semanas. O pessimismo vem se mantendo elevado e acredito que os "market makers" querem "jogar" os mercados para uma zona mais próxima da neutralidade de gamma. Dito de forma mais simples, eles tentarão levar o mercado para uma conjuntura em que as oscilações tendem a diminuir, permitindo que eles passem a ganhar dinheiro com a passagem do tempo, ao invés da trabalhosa forma de gerar diariamente elevadas amplitudes de preços.

Mas, e agora que o S&P 500 já está de volta acima de 3.900 pontos? O que fazer?

É importante que o leitor saiba que os preços dos ativos americanos não embutem neste momento uma probabilidade de recessão nos próximos 12 meses. O que observamos nesta sexta-feira -- e provavelmente iremos observar até o feriado do dia 4 de julho -- é um mercado mais leve resultado de um alívio em relação à crise de liquidez que se fez presente nos últimos dois meses. É provável que o VIX -- hoje próximo a 28,5% -- caminhe para um patamar próximo a 25%. Conforme mencionei no parágrafo associado ao "vácuo" no noticiário corporativo, os "market makers" anseiam levar os índices para um patamar de neutralidade de "gamma". Boa parte destes esforços foi cumprido já na última sexta-feira.

No entanto, há quem diga que esta festa não deve durar muito tempo. Os especialistas que acompanho de perto apontam que a situação econômica nos EUA se deteriora rapidamente. Nesta última sexta-feira, tivemos o índice de confiança do consumidor calculado pela Universidade de Michigan registrando um dos piores patamares da série histórica. Além disso, há relatos de que o "spread" entre o ROIC ("retorno sobre o capital investido") das empresas e seus respectivos custos de capital vem se fechando rapidamente.

Ainda que o mercado esteja celebrando uma queda na expectativa do consumidor no que diz respeito a inflação nos próximos meses, há relatos de que o custo da moradia nos EUA não para de subir, colocando mais de 3 milhões de cidadãos em risco de despejo no país.

Por tudo isso, os especialistas mais pessimistas pensam que é uma questão de tempo até que esta transição -- de uma crise liquidez para uma com características de recessão -- comece a se manifestar no preço dos ativos de renda variável. Observe que, na renda fixa, os "spreads" corporativos, tanto para "Investment grade" como para "High Yield", já mostram alguns sinais de que uma recessão está por vir. O famoso Bill Dudley diz que uma recessão nos próximos meses nos EUA é praticamente certo. Mike Wilson, o estrategista do Morgan Stanley que, assim como Dudley, vem acertando a tendência, diz que seu cenário base ainda não contempla uma recessão nos próximos 12 meses.

Finalizo, argumentando que é tempo de "momentum" e recuperação nos preços. Que aproveitemos esta oportunidade por mais curta que ela seja!

Marink Martins

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