Movimentos anti-establishment por Mariana Ratão

10/09/2019

Já estamos acostumados a ouvirmos sobre os embates, agora diários, no Parlamento britânico, sobre o Brexit. E as prováveis consequências de um hard ou soft Brexit - Boris Johnson, ao tentar ditar o tempo da votação final até 31 de outubro... como dizemos, se embananou. A discussão aqui parece chegar, na mídia, ao inevitável: as pessoas "votaram errado?".

Recentemente tive o prazer de assistir a uma conferência de um professor inglês sobre o Brexit. Mas algo me assustou, que foi exatamente a frase: o maior erro foi Cameron ter decidido realizar o plebiscito. Será que para os políticos, os problemas, são as pessoas?

Ou o maior problema é: as pessoas perceberam o desdém dos burocratas por suas escolhas?

Neste domingo os russos participaram de eleições locais para 45 cadeiras em seu parlamento. O interessante é o fato de que a popularidade do partido Rússia Unida, cujo líder é Medvedev (atual primeiro ministro) - ou seja, o "partido do governo" - decaiu a tal maneira que, Alexei Navalny, líder da oposição (majoritariamente jovem), lançou até mesmo um aplicativo onde os eleitores possam saber, em sua região, qual candidato irá causar maior dano ao partido de Medvedev.

Sabemos que a Rússia não possui um histórico de tolerância a manifestações e a revoltas anti establishment. Os resultados deste pleito podem ser encarados como uma prévia das eleições nacionais russas de 2021.

Em Israel, cuja política se baseia primeiramente na questão da defesa nacional, temos partidos considerados "far right" (direita conservadora) que aprovaram leis como teto de salário para funcionários privados - o que aqui seria visto por muitos como uma política socialista, de "extrema esquerda". Já em Hong Kong, Carrie Lam enfrenta protestos que ameaçam até mesmo a liderança de Xi Jinping - se obtiverem sucesso, e os manifestantes contaminarem a China continental, o Partido Comunista Chinês pode se ver sem alternativas - a não ser a tão utilizada repressão.

Em suma, os conceitos de "esquerda" e "direita" flutuam ao sabor dos próprios conflitos e desafios nacionais. Tudo isso, obviamente, é floreado por opiniões pessoais de quem os escreve. Os conflitos observados em Hong Kong e na Rússia, além dos "conflitos" parlamentares britânicos evidenciam que nossa situação brasileira, em comparação a questões democráticas, para a alegria ou tristeza de muitos, não vai mal.

Dito isto, não se desfaça de posições ou se deixe levar por opiniões jornalísticas meramente comentadoras sobre "qualidade da democracia" e similares no Brasil (ou até mesmo em outros países). Se realmente quiser compreender o assunto (qualidade das democracias), e se puder gastar nisso seu precioso tempo, leia um dos livros do holandês Arend Lijphart. As manchetes, por óbvia questão de venda, tendem ao verdadeiro "clickbait".

O que vende jornal, não te dá dinheiro. A manchete política é feita para aumentar sua ansiedade (e para quem é paranoico, para fazer você perder seu dinheiro). Vá sempre na ponta contrária.


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