Não se investe mais como no passado!

As fontes de análises que embasam o trabalho que aqui publico exploram um tema comum nesta terça-feira: o declínio no percentual do fluxo de caixa corporativo destinado a investimentos em "capex". Se nos anos 90 as empresas americanas destinavam 1/3 do fluxo de caixa livre a dividendos, outros 1/3 a recompra de ações e um último 1/3 a "capex", hoje esta última parcela desapareceu. As razões para este fenômeno são diversas e se relacionam a fenômenos demográficos, a incertezas econômicas e até mesmo a um maior imediatismo detectado no comportamento dos agentes.

Nos últimos 12 meses, as empresas Apple, Google, Microsoft e Meta (Facebook) promoveram recompra de ações que totalizaram 231 bilhões de dólares. Estima-se que, deste total, 30% esteja conectado à recompra de ações de funcionários. O saldo é o que especialistas chamam de "verdadeira recompra" de ações e é um valor expressivo se considerarmos que o volume total investido em "startups" nos EUA no período foi de 330 bilhões de dólares.

A empresa Meta (Facebook) tenta ir em uma direção contrária, destinando bilhões para se tornar a empresa dominante do Metaverso. A resposta do mercado, entretanto, tem sido tenebrosa, jogando o "valuation" da empresa para um patamar de 13x o lucro projetado para os próximos 12 meses.

É por esta razão e muitas outras que pessoas como Louis Gave não se cansam de nos falar que os problemas de oferta de hoje são antecedentes aos estragos provocados pela pandemia. Há um imediatismo nos agentes que "molda" o comportamento dos CEOs. Como diz Charlie Munger: "show me the incentives and I will show you the outcomes" (mostre-me os incentivos econômicos e te mostrarei as consequências).

Tal imediatismo não é a única causa desta falta de comprometimento com o crescimento voltado para o longo prazo. Estamos diante de mudanças demográficas importantes que também "moldam" o comportamento dos CEOs. Assim, concluo este texto com uma pergunta um tanto provocativa: será que o capitalismo ocidental (da forma como vem sendo conduzido hoje) está preparado para conviver com uma forte desaceleração demográfica que está por vir?

Marink Martins