O efeito Dimon

07/04/2021

Se Warren Buffet é a epítome do mundo dos investimentos, pode-se dizer que Jamie Dimon é o mesmo para o corporativismo americano. À frente do principal banco dos EUA - o JP Morgan -- Dimon é uma referência no mundo do crédito. Seu comunicado aos acionistas, tornado público pela mídia nesta manhã, talvez seja uma das principais notícias do dia.

Em seu comunicado, Dimon diz:


Eu não tenho a menor dúvida que esta combinação de poupança elevada, novos estímulos ao consumo, maiores gastos fiscais, maior expansão monetária, novo pacote econômico focado em gastos com infraestrutura, sucesso na vacinação e euforia com o processo de reabertura da economia irão contribuir para uma forte expansão econômica nos EUA que poderá se alongar até 2023. 

O conteúdo em si não é uma novidade. Contudo, os efeitos de curto prazo tendem a ser positivos, considerando que os mercados estão nas máximas, transitando por um período de baixa volatilidade e expressiva redução dos "spreads" corporativos.

Curiosamente, Ben Bernanke - presidente do FED durante a crise financeira de 2008 -- quando perguntado sobre o que ele faria diferente naquela ocasião de posse do conhecimento dos efeitos a posteriori, disse: "FARIA MAIS E DE FORMA MAIS RÁPIDA!

E não é que foi justamente esse o receituário colocado em prática por Jerome Powell e Steven Mnuchin como resposta a epidemia! Uma prova disso é que os EUA conseguiram reduzir o desemprego de 15% para 6% em um ano! Em 2008, a redução do nível de desemprego da máxima registrada naquela ocasião para o patamar de 6% levou 5 anos. Mesmo levando em conta que a participação do trabalhador caiu alguns pontos percentuais, a reação vista no mercado de trabalho americano tem sido espetacular.

Tal mágica é naturalmente fruto do maior experimento fiscal e monetário da história do capitalismo. Pela primeira vez na história, tivemos uma recessão em que a renda do trabalhador não caiu! Além disso, as transferências diretas de renda ao trabalhador contribuem para um elevadíssimo nível de poupança que deverá confirmar todas as previsões feitas por Dimon.

Todavia, os mercados já sabem disso e já se anteciparam a tudo isso. Por muito tempo vivemos um ciclo em que os principais indicadores econômicos eram as pesquisas feitas com gerentes de compra -- os PMIs. Agora nos preparamos para um novo ciclo -- um em que os índices de preços, sejam eles ao atacado ou ao varejo -- voltam a uma posição de protagonismo nos mercados. 

O que todos querem saber é o seguinte: quando é que os índices de preços irão subir a ponto de estragar a festa delineada por Dimon? Sabe-se que devido aos efeitos de calendário ("base effects", em inglês), os IPCs irão subir. Mas, será que se manterão elevados? Será que o custo do capital irá se elevar? Essa é a grande questão.

A resposta poderá vir em semanas. Enquanto isso, creio que os preços dos ativos continuarão a subir. Afinal, o "momentum" é positivo, e como a própria definição desta expressão diz: "o que está dando certo, tende a continuar dando certo (e vice-versa)!

Marink Martins

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