O evento mais importante do mês: o "terceiro plenário" do PCC

02/07/2024

Em um bate-papo entre estrategistas cujo foco é a China, foram feitas diversas observações na tentativa de responder às seguintes perguntas:

1. Como está a economia chinesa?

2. O que o Partido Comunista Chinês estaria planejando no que diz respeito a estímulos econômicos?

Seguem alguns comentários:

  • Ainda que indicadores econômicos apontem para uma economia em expansão, há sinais claros de que há bastante ociosidade na economia.
  • No passado, períodos deflacionários duraram por um curto período. O atual período, entretanto, já dura 3 anos.
  • Principal raiz do problema: a crise no setor imobiliário.
  • O setor de consumo está sofrendo e, de acordo com analistas, está 1,5% abaixo da linha de tendência (valores em relação ao PIB)
  • Já o setor imobiliário está 8,5% abaixo da linha de tendência (valores em relação ao PIB)
  • Assim, se colocarmos consumo + setor imobiliário, temos um declínio de 10% do PIB em relação à tendência. Todavia o declínio estimado é bem menor. Isso ocorre, pois há outros setores registrando uma performance acima da expectativa. Dentre eles, o setor de exportação se destaca. Outros setores como o de manufatura e de infraestrutura também contribuem positivamente.
  • O mercado de trabalho está fraco. A demanda agregada está fraca. O efeito riqueza tem atuado de forma negativa, devido ao declínio nos preços dos imóveis.

Setor imobiliário

  • Em 2020, o Partido Comunista Chinês (PCC) reduziu o acesso a crédito para diversas construtoras. Estímulos econômicos foram direcionados ao setor de manufatura/industrial.
  • A mudança em termos de política industrial afetou diversos setores da economia. O setor de construção civil foi certamente o que mais sofreu.
  • O resultado surpreendeu o PCC negativamente. O plano não era destruir o setor de construção civil.
  • Chegamos a um ponto em que o PCC está consciente da necessidade de intervir e ajudar o setor imobiliário. A vulnerabilidade financeira das construtoras é algo que vem afetando negativamente o setor.
  • No dia 17 de maio o PCC estabeleceu diversas iniciativas neste sentido.

O que esperar do "Terceiro Plenário" do PCC?

Andrew Batson, analista da Gavekal, nos diz que nos últimos três anos eventos desta natureza frustraram os investidores. Há quem espere por medidas diretas e intensas na direção de resgate ao setor imobiliário. Isto ocorreria através da compra de imóveis e subsequente conversão destes em imóveis "sociais" (destinados ao público mais pobre).

Dito isso, o analista nos diz que é muito difícil neste momento estimar a magnitude de um eventual movimento como o descrito acima.

A minha percepção é que o PCC não compartilha da urgência demandada pelo mercado. O próprio analista da Gavekal nos diz que há um sentimento de que a China "conquistou" o "luxo" de não ter mais que lutar por qualquer ponto de expansão no PIB. Ele comenta que o PCC parece pensar mais adiante e estar feliz com os avanços no setor industrial.

Em linha com o comentário acima, nesta manhã na CNBC, discute-se dois temas que podem indiretamente dialogar com as questões acima:

  1. As dificuldades de se viajar para a China -- turistas relatam que ficou extremamente complicado agendar viagens domésticas e visitas a parques/museus e outros destinos devido a uma maior "burocracia" no uso de aplicativos resultante de uma maior interferência política no setor. Sabe-se que os turistas necessitam abrir contas no WeChat para fazer coisas como andar de Didi (UBER chinês) e comprar ingressos para eventos. Mesmo assim, o uso do aplicativo ficou mais burocrático.
  2. Tensões comerciais entre a China e a União Europeia -- na semana passada a UE impôs tarifas aos carros importados da China. É esperado uma retaliação por parte do gigante asiático.

Em suma, tenho a impressão de que a China irá fazer o mínimo necessário para evitar que os problemas imobiliários se tornem um problema cambial para o país. Tudo que leio parece indicar que a China está praticando um "jogo" de longo prazo -- visando domínio industrial global -- enquanto o resto do mundo parece estar apagando "incêndio".

Marink Martins

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