Perguntas de um observador dos mercados globais

10/06/2021

Dizem que os gestores não são pagos para prever, mas sim para se adaptar! Pensando nisso, julgo que pode ser mais interessante formularmos algumas perguntas do que tentarmos identificar quais serão os próximos movimentos de curto prazo dos principais índices. Sendo assim, elenco algumas perguntas que adoraria fazer ao Oráculo de Delphos, se possível fosse:

1. Com a taxa de 10 anos dos títulos do tesouro americano voltando para um patamar inferior a 1,50% ao ano, será que há espaço para mais uma pernada de alta no preço das BIG TECHs norte-americanas?

2. Diante do processo de vacinação mais acelerado nos EUA, e de um processo de reabertura da economia já em curso, será que o governo Biden irá renovar medidas assistenciais? Aqui penso em duas medidas importantíssimas: o auxílio federal extra de 300 dólares/semana no seguro desemprego e a moratória nos despejos.

3. Considerando que há preocupações com a inflação, tanto na China como nos EUA, e que a China vem promovendo políticas monetárias contracionistas enquanto os EUA expansionistas, qual país permitirá uma maior desvalorização de sua moeda?

Aqui vale um adendo: o dólar Index (DXY) encontra-se próximo a 90. Especula-se que caso este indicador caia para baixo de 89, é provável vermos uma queda mais acelerada do dólar. Isso, contudo, retiraria competitividade das empresas europeias e chinesas. E é justamente por isso que esta pergunta #3 é de extrema importância.


4. Caso a moeda americana se desvalorize de forma acelerada e o DXY caia para um patamar inferior a 85, será que os investidores estrangeiros -- abarrotados de ativos americanos (ver NIIP -- Net International Investment Position publicado pelo BEA) -- manteriam seus investimentos em ativos dolarizados?

5. Caso a moeda chinesa se desvalorize de forma acelerada, voltando para um patamar de 6,60 iuanes/dólar, será que a China restringiria ainda mais seu impulso creditício buscando conter sua crescente inflação? 

6. Se o preço do Bitcoin subiu devido a efeitos de rede ("network effects"), o que acontecerá com o seu preço caso o número de usuários fique estagnado por um tempo?

7. Se 90% do comércio global é feito por vias marítimas, o que dizer do aumento superior a 100% no custo diário ("day rate") do transporte marítimo de contêineres? Quando será que este aumento chegará ao consumidor final?

E, para finalizar, meu caro Oráculo:

8. Como será a reação dos mercados (se é que teremos alguma) quando o saldo da conta TGA ("Treasury General Account") atingir o patamar de 600 bilhões de dólares sinalizado por Janet Yellen?

Aqui, explico que considero o processo de redução em tal conta -- do patamar de 1,7 tri de dólares em jan/21 para os atuais 780 bi em jun/21 -- como um dos principais fatores contribuindo para a continuidade do ciclo altista visto nas bolsas globais.

Ao formular perguntas, muitas as formulamos de forma enviesada. Aqueles que me acompanham sabem do meu conservadorismo diante da euforia vista no mercado acionário norte-americano. Por isso, encare-as ciente de que o autor anda extremamente desconfiado de que "a cara" do mercado poderá mudar a partir do dia 21/6, data subsequente ao vencimento trimestral de opções e contratos futuros do índice S&P 500. Coincidentemente, data também do vencimento de opções no mercado brasileiro.

Marink Martins

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