Por uma melhor compreensão dos riscos associados ao velho continente!

04/07/2022

Queira ou não somos todos americanizados. Em termos de disseminação de sua própria cultura através da música, dos esportes, do cinema, o sucesso americano não tem comparação. No mercado financeiro não é diferente. Estamos todos constantemente antenados com o que ocorre em Nova York. O nosso posicionamento geográfico (com fuso horário quase que coincidente com NY) é também um fator extremamente importante. Sem desmerecer os méritos deste vínculo entre brasileiros e americanos, quero argumentar aqui que devemos alocar um maior espaço em nossas tumultuadas agendas para buscar uma melhor compreensão a respeito do problema europeu! É possível que nos próximos 12 meses ele seja mais importante do que a constatação ou não de uma recessão nos EUA.

Escrevo sobre isso animado por um comentário que tive acesso escrito pelo analista Nick Andrews que cobre o mercado europeu para a casa de pesquisa Gavekal. Nick nos fala sobre a luta exaustiva por parte do BCE ("Banco Central Europeu") em reduzir o que o mercado chama de fragmentação na zona do euro -- isto é, o alargamento dos diferenciais de taxas de juros em títulos de mesmo prazo entre países do norte da Europa, como a Alemanha, e os do sul da Europa, como a Itália.

Em março de 2020, Christine Lagarde disse ao mundo que não era o papel do BCE promover um encurtamento destes diferenciais de taxas de juros ("spreads"). No entanto, tudo que o BCE vem fazendo é justamente isso. Após o recente estresse no início de junho que levou os "spreads" entre títulos de 10 anos da Alemanha e Itália a atingir um patamar superior a 250 basis points (2,5%), o BCE reagiu e "tirou da cartola" mais uma promessa ao mercado: um novo mecanismo "anti-fragmentação"! Este mecanismo será apresentado ao mercado no dia 21 de julho e poderá se provar relevante ao comportamento dos preços dos ativos globais.

Em seu texto, Nick, de forma interessante, cita o trilema político associado a globalização enunciado pelo professor da Harvard, Dan Rodrik, que diz: É impossível ter, ao mesmo tempo, democracia, soberania nacional e integração global. A presença destes três atributos ao mesmo tempo é algo incompatível, de acordo com Rodrik.


A minha interpretação de tudo que li sobre este tema é de que, em breve, veremos cidadãos do sul da Europa reclamando do BCE de forma análoga a observada quando latinos e cidadãos do sudeste asiático reclamavam do FMI. Não vai demorar muito e a parte rica da Europa vai querer emplacar uma espécie de "Consenso de Washington" aos cidadãos do sul. (para entender mais sobre tal consenso, clique aqui.)


Será que vai funcionar? O veterano Charles Gave pensa que não e já nos avisa a respeito disso por mais de 10 anos. A profecia "gaviana" vem ganhando espaço. Te convido a dedicar uma maior atenção a questão europeia.

Marink Martins


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