Prepare-se para mais uma disrupção no setor de petróleo

18/09/2019

Muito se falou a respeito do ataque às instalações da Saudi Aramco como uma espécie de "tipping point" (ponto de inflexão) no mercado de petróleo. 

Evidências de envolvimento do Irã poderão gerar ainda mais incertezas no mercado e resultar, até mesmo, em uma guerra no Oriente Médio. Contudo, independentemente da materialização ou não deste cenário bélico, há razões para se preocupar com pressões inflacionárias oriundas do setor  de energia.

Especificamente, refiro-me a entrada em vigor da medida associada a redução da emissão de dióxido de enxofre por parte da indústria marítima a partir do dia 1/1/2020 ("IMO 2020"). Em julho deste ano gravei um vídeo explorando este tema e você pode assistir clicando abaixo:

Ainda que o impacto no preço do petróleo não seja tão significativo, a medida resultará em uma significativa elevação no custo do transporte marítimo global.

Você sabia que 90% do comércio global é feito por navios? Estrategistas afirmam que, se contarmos somente os 200 maiores navios, estes são responsáveis por emitir o mesmo volume de enxofre no ar que toda a frota automotiva global!!! Isso ocorre porque tais navios fazem uso do que é conhecido como "bunker oil" que é um dos combustíveis mais sujos que você pode imaginar.

Assim, caberá as operadoras marítimas as seguintes alternativas:

1. Fazer uso de um combustível mais limpo e muito mais caro.

2. Instalar exaustores conhecidos como "scrubbers" que permitem com que as operadoras continuem utilizando o combustível sujo ("bunker oil").

3. Fazer uso de combustíveis alternativos como gás natural ou biocombustíveis.

Seja qual for a escolha, o custo será elevado e será repassado para os consumidores.

As principais operadoras globais de containers (Maersk, MSC, CMA, Hapag-Lloyd, OOCL e ONE) estimam que o custo anual irá subir algo próximo a US$15 bi. Só que os navios de container representam somente 13% da frota marítima global. Sendo assim, estima-se que o custo total do segmento poderá ser superior a US$100 bi.

Bottom Line: Já mostrei aqui como os índices de inflação são fortemente correlacionados com o custo de energia. Temos aí mais um evento que poderá representar uma "espécie" de atrito na corrente de comércio global.

Marink Martins

www.myvol.com.br