Procura-se por um REDENTOR!

29/04/2022

Iniciei a semana dando destaque a 5 fatores determinantes. Vejamos se eles se comportaram positivamente ou negativamente:

1. Guerra cambial na Ásia -- NEGATIVO - basta olhar onde foi parar o euro, o iene e o iuane nos últimos dias. Temos uma guerra cambial com toda a cara do que é conhecido em inglês por "Beggar thy neighbor" (desvalorizações competitivas).

2. "Lockdowns" chineses -- NEGATIVO - O lockdown de Xangai deverá ser estendido para maio e o mistério agora gira em torno da possibilidade de lockdown em Pequim.

3. Eleição na França -- POSITIVO - Deu Macron! "Vive la France!" No entanto, não esqueça de ver o gráfico mais adiante.

4. Sanções adicionais à Rússia -- NEGATIVO - O gás russo direcionado a Polônia e a Bulgária foram bloqueados. Os europeus já concebem a possibilidade de enviar euros para o único banco russo que não sofreu sanções -- o Gazprombank! Temos, neste momento, uma virada de jogo. Basta ver o valor da moeda russa abaixo de 80 rublos por dólar. Será que ideia russa de equiparar o rublo ao ouro irá vingar? (5.000 rublos por grama de ouro)

5. Resultado da Apple, Microsoft e outras Big Techs -- NEGATIVO - O resultado da Apple até que foi considerado bom, mas neste momento o papel cai 2%. Na semana a performance está negativa. Com exceção da Microsoft, outras bigtechs como a Amazon e a Google performaram mal. O fato é que paira um enorme ceticismo em relação a capacidade do FED de gerar um pouso suave ("soft landing").

De onde virão os "impulsos/iniciativas" para salvar o mundo corporativo de uma contração de múltiplos de P/L ainda mais intensa do que a que prevalece?

1. Da política monetária? Pouco provável. O FED está em processo de "aperto" monetário. A China, que registra baixa inflação, poderia até ajudar. Mas, será que Xi Jinping tem algum interesse em ajudar o ocidente neste momento em que o mundo flerta com ideias de DESDOLARIZAÇÃO?

O BOJ está escancaradamente promovendo YCC ("yield curve control", ou manipulação da curva de juros) se comprometendo a comprar JGBs diariamente. Isso já é dado e o mercado vem penalizando o Japão através do câmbio. Resta o Banco Central Europeu que, neste momento, é uma incógnita.

2. Da política fiscal? Pouco provável. Nos EUA, os republicanos estão sedentos para derrubar os democratas e não querem ajudar o Biden com seu "Build Back Better". Na Europa, países como a França e a Itália já se encontram bem endividados. Será que a Alemanha estará disposta a se endividar para salvar os países mais vulneráveis?

Observe através do gráfico abaixo que na França, cada euro obtido em forma de endividamento, vem gerando uma contribuição decrescente em termos de PIB. Isso é o que economistas chamam, em inglês, de "negative multiplier effects".

Em se tratando das relações europeias, vale destacar que um especialista na região nos lembrou que as nações são parceiras enquanto há espaço fiscal. Na ausência deste a situação tende a se tornar bem mais perversa. Há riscos de ruptura na Europa caso um cenário recessivo se instaure.

3. Big Techs e Bancos americanos? PROVÁVEL. As grandes empresas americanas estão lucrativas. Os bancos estão super capitalizados e poderão substituir o esforço creditício desempenhado pela dupla TESOURO/FED. O USD forte, entretanto, não é favorável as Big Techs. Amazon reclamou muito da inflação alta e deu como "guidance" uma projeção de crescimento um tanto frustrante. Sendo assim, fique de olho nos bancos americanos. Desconfie de altas na bolsa que não contem com a participação dos bancos; principalmente os regionais que fazem parte do ETF KRE.

A minha conclusão / especulação:

Confesso que pensei que o mundo entraria em colapso econômico lá em 2016 quando vivíamos forças deflacionárias que levaram o petróleo a 30 e o minério de ferro a 35! Não sabia que havia ainda muito combustível para queimar. De lá para cá, tivemos taxas de juros negativas, BCE e BOJ expandindo agressivamente seus ativos, corte de impostos de Trump, FED pivotando, e uma resposta global sem precedentes a pandemia.

Ao contrário de 2016, o mundo agora enfrenta INFLAÇÃO ALTA. A forte alta do dólar contribui para que a inflação americana fique um pouco mais baixa, mas, ao mesmo tempo, ela destrói a lucratividade de boa parte das empresas do S&P 500 que geram receitas fora dos EUA. Penso que isso é justamente a versão de pouso suave que o FED deseja: uma queda ordenada da bolsa afetando negativamente o EFEITO RIQUEZA. Mas, e o resto do mundo? Do jeito que está, me parece que o resto do mundo irá pagar a conta como fez lá na crise asiática!!! Será?

De onde virá a redenção? Lembre-se que um ativo barato -- na ausência de eventos como a farra dos BCs mencionados acima -- pode ficar barato por anos... Entenda a estrutura de capital da empresa que você está ou estará posicionado. Evite empresas alavancadas. A CSN flertou com a falência em 2016. Foi ajudada pela China e pelos BCs, e aproveitou muito bem o período de bonanza. As próximas vítimas talvez não tenham o mesmo privilégio de contar com a sorte vivida pela empresa de Volta Redonda.

Sei que o momento econômico ainda não é de quebradeira. No entanto, dizem que o momento apropriado para se consertar o telhado é quando está sol. Pense nas questões acimas como nuvens carregadas que se aproximam.

Marink Martins


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