Será que o FED vai combater a inflação através do EFEITO RIQUEZA?

04/05/2022

No velho debate entre ações classificadas como "GROWTH" (aquelas cuja lucratividade se encontra em um horizonte de tempo mais distante) e ações de Valor (aquelas que, em tese, negociam abaixo de seu valor intrínseco), vivemos um período nos EUA em que as ações de VALOR estão "dando um show" nas ações de "GROWTH". No gráfico abaixo, temos o diferencial de performance destes dois segmentos medidos pelo retorno acumulado em prazos de 100 dias, de forma contínua.

O gráfico acima nos chama atenção por diversos fatores. Observa-se nitidamente que a pandemia contribuiu para uma enorme distorção nesta relação. Primeiramente, as ações de "growth" dispararam. Em seguida, tivemos um forte movimento de reversão à média.

Um outro ponto importante é que o momento atual nos remete ao que ocorreu após o estouro da bolha do Nasdaq; lá entre os anos 2000 e 2002.

Curiosamente, assim como ocorrera naquela ocasião, havia muitos estrategistas clamando que as ações das grandes empresas de tecnologia dos EUA estavam uma barganha. Ontem, na CNBC, o otimista estrategista Tom Lee mais uma vez disse que as velhas FANGs estão "de graça". Já Cathy Wood, da Ark Investments, insiste em dizer que este momento se apresenta como uma grande oportunidade de se comprar barato empresas inovadoras como as que compõem seu famoso e polêmico ETF - ARKK.

Mas, o que os estrategistas que acompanho estão dizendo a respeito de tudo isso? Na Gavekal, as análises estão voltadas à mudança de paradigma em curso. Refiro-me ao fato de que a Europa caminha para uma situação bem desfavorável. O velho continente não poderá mais comprar sua energia pagando com a sua própria moeda. As consequências de tal mudança são imensas. E não devemos esquecer que, nos EUA, grande parte das receitas das principais multinacionais do S&P 500 é oriunda da Europa.

Um outro tema muito discutido na pela Gavekal diz respeito ao aumento no custo do trabalho medido pelo indicador ECI ("employment cost index"). Este vem subindo a uma taxa anualizada de 4,5%. E, historicamente, quando isso ocorre, o impacto na lucratividade das empresas ocorre em dois trimestres.

Por essas e outras razões, a Gavekal acredita que a lucratividade das empresas do S&P500 deverá ser negativamente impactada ainda este ano. Até mesmo a otimista Datatrek já se parece mais preocupada com o "outlook" das BigTechs.

Vamos ver o que Powell irá dizer em sua entrevista de hoje. Devemos procurar por dicas no que diz respeito a intenção do FED de combater a inflação através do efeito riqueza. Muitos pensam que a única forma de derrubar a inflação de forma acelerada é derrubando o preço dos ativos e, com isso, afetando negativamente a propensão do cidadão ao consumo. Vamos observar.

Marink Martins


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