Temas internacionais para reflexão
O título de hoje é uma espécie de tradução da expressão "Wall of Worry" (muro das preocupações) muito discutida na mídia financeira; em particular, na CNBC. Nas últimas semanas observa-se uma certa transição entre os principais temas que ocupam a mente dos investidores. Se antes só se falava na política monetária do FED, tal tema cedeu espaço para outros como a escalada da Nvidia, eleição presidencial ao redor do mundo e questões fiscais. Já no Brasil, a substituição de RCN é definitivamente um dos principais temas que impactarão os mercados nos próximos meses.
Assim, o meu objetivo neste texto é escrever algo, tomando como base as análises que tenho acesso, a respeito de alguns dos temas mencionados.
1. Sobre a escalada da Nvidia
Da última quinta-feira (dia 20) até ontem (dia 24) os investidores testemunharam uma queda no preço das ações da Nvidia de aproximadamente 18%! Antes disso, o valor da empresa havia se apreciado em 880 bilhões de dólares em um intervalo de somente 21 dias. Uma loucura digna do que foi visto com o preço das ações da Cisco durante a bolha de 1999/2000. O fato é que só se fala da Nvidia na mídia financeira. Há quem diga que este tema está "sugando" todo o "oxigênio" do mercado de ações.
Hoje, a Datatrek nos mostra através de dados que está em curso um movimento de rotação no qual recursos transitam da Nvidia para outros setores associados a valor. Dito isso, a casa de análise deixa claro que a preferência do investidor global ainda é por empresas grandes e sólidas ("large caps") e, neste sentido, mostra como evidência a disparidade de performance entre os índices S&P Value e o Russell 2000 -- uma diferença superior a 2 desvios- padrões nos últimos dois anos a favor das "large caps" associadas a valor.
Em suma, apesar da recente realização no preço das ações da Nvidia, o VIX permanece baixo e a correlação setorial permanece baixa. Para Nick Colas, o fundador da Datatrek, tudo em linha com o seu diagnóstico de que o mercado transita em fase de "mid-cycle".
2. Sobre eleições presidenciais no mundo
Recentemente, tivemos 3 eleições importantes: no México, na Índia, e no parlamento europeu. Todas fizeram preço nos mercados no dia seguinte ao evento. A ponta europeia ainda preocupa devido ao que está por vir na França. Todavia, não há dúvida de que a eleição americana será a que terá um maior impacto nos mercados.
Neste sentido, vale a pena chamar atenção ao fato de que na próxima quinta-feira teremos um debate entre Trump e Biden, antes mesmo das convenções partidárias que deverão ocorrer em julho e agosto. Dentre os principais temas desta campanha, a questão dos tributos corporativos é certamente uma das principais. Em 2017, Trump conseguiu reduzir os impostos corporativos de 35% para 21%, impactando positivamente os mercados. Tal redução caducará no fim de 2025. Trump deseja, não só transformar o corte de impostos em permanente, mas reduzi-los de 21% para 20%. Já Biden deseja aumentá-los para 28%.
Por tudo isso, o tema eleição presidencial norte-americana tende a ser um dos principais temas de hoje até o fim deste ano.
3. Questões fiscais
Há quem diga que boa parte da "outperformance" das ações norte-americanas se deve a impulsos fiscais do governo Biden ao longo dos últimos 36 meses. Nesta semana, um analista da Gavekal nos mostra que, em 2023, tal impulso fiscal foi de fato positivo e ajudou a aquecer a economia dos EUA. Já para 2024, estimativas feitas pelo CBO nos EUA indicam que o impulso fiscal tende a ser neutro -- o governo irá arrecadar mais, porém irá gastar mais, na mesma proporção. Em suma, o déficit primário dos EUA tende a ficar estável.
Marink Martins