Um diferencial de VOL sem precedentes
Em entrevista concedida à CNBC, o "bond king" Jeffrey Gundlach (CEO da DoubleLine Capital) disse o seguinte: "é possível que em um futuro próximo iremos dizer que os EUA já estavam em recessão durante este mês de julho." Gundlach acredita que o FED está sempre atrasado e, neste sentido, sua expectativa é de que a instituição começará a cortar a taxa básica da economia em setembro em um ciclo que poderá resultar em uma sequência de cortes de até 150 pontos base (1,50%).
Para o Brasil tal movimento, se materializado, é música. Contribui para um maior espaço de corte em nossa taxa básica e tende a nos dar um certo alívio no câmbio. Mas tem mais...
Nesta quarta-feira o Banco do Japão virou a mão e emitiu um comunicado restritivo ("hawkish") que contribuiu para uma valorização expressiva da moeda japonesa. Conforme venho mencionando nestes comentários, apesar de receios de "desmonte" de operações de "carry trades" envolvendo o iene, historicamente a valorização da moeda japonesa tende a ser positiva para os preços das commodities e para as moedas de países emergentes.
Assim, temos as portas abertas para a tão aguardada re-precificação de ativos emergentes. No entanto, há sempre aquele desconforto de navegar na contramão do S&P 500. Nesta quarta-feira, o S&P 500 surpreendeu e registrou uma alta superior a 2%, fruto do entusiasmo com os gastos em "capex" anunciados pela Microsoft. Como boa parte deste "capex" tende ser direcionado para a compra de semicondutores destinados ao desenvolvimento de ferramentas associadas a "AI", as ações da Nvidia dispararam mais de 10%. Todavia, há sinais de fragilidade na bolsa americana. Conforme venho enfatizando, o VIX subiu bastante nesta semana. Chegou a atingir 19% no início da semana e fechou ontem um pouco acima de 16%.
Na imagem abaixo, temos o S&P 500 em comparação ao VIX (invertido). Observe que, da mínima registrada em abril até a máxima registrada em julho, o S&P 500 subiu em meio a VIX baixíssimo (próximo a 12%). A história mudou na última semana e temos agora um "gap" que vem deixando muitos investidores apreensivos.
Na mídia financeira internacional muito se discute a respeito da sazonalidade do VIX. Estamos entrando em um período que tende a ser mais volátil. Além disso, incertezas associadas a eleição contribuem para um postura mais conservadora por parte de muitos investidores. No gráfico abaixo, preparado pelo Bank of America, temos a média histórica do VIX para os meses que antecedem o período eleitoral.
O que é mais curioso no que diz respeito ao gráfico acima e o tema associado a VOL do mercado é que, ao contrário do VIX, a VOL embutido nas opções de BOVA11 para o mês de setembro está mais baixa do que a VOL implícita para o mês de agosto. Enquanto o VIX de setembro aponta para níveis próximos a 17%, por aqui a a VOL embutida no contrato BOVAI130 -- call com preço de exercício de 130 reais -- aponta para 11,3%.
Novamente, este diferencial de VOL é inusitado e deve ser interpretado como uma mensagem auspiciosa no que diz respeito a trajetória futura do Ibovespa.
Lembre-se: uma VOL mais baixa significa que o "emissor/segurador/lançador" está mais confortável com a possibilidade de "sinistralidade". Traduzindo tudo isso para o mundo das ações, isso quer dizer que o "vendedor de PUTs" está "pedindo menos prêmio" para carregar uma posição de BOVA11 em relação ao prêmio exigido para carregar uma posição em SPY (S&P 500).
Para finalizar... o que dizer sobre a decisão do COPOM na tarde de ontem? Meu entendimento é que o comitê optou por focar em um horizonte de tempo mais longo e irá contar com um cenário internacional mais benigno (dólar mais fraco + corte do "fed funds").
Marink Martins