"Você sabe por que ganho muito dinheiro?"

07/06/2022

Fiz adaptações a um texto que escrevi aqui na MYCAP em 2018 para refletir o momento atual nos mercados. Segue:

"Do you know why I make the big bucks?", foi esta a pergunta feita pelo personagem do ator Jeremy Irons no filme MARGIN CALL (O dia antes do fim) em uma reunião, no meio da madrugada, para definir o futuro de sua empresa que se encontrava em meio a enorme vulnerabilidade. E ele mesmo responde brilhantemente: Eu estou aqui simplesmente para dizer se a festa (a música) vai acabar na semana que vem, no mês que vem ou no ano que vem.

De uma forma sutil, o personagem nos dá uma grande lição a respeito do que é conhecido como "market momentum". Emprestado da física e também utilizado nos esportes, "momentum" refere-se a quantidade de movimento, uma função da velocidade de deslocamento vezes a massa de um corpo. É através desta descrição que diferenciamos o esforço necessário para se frear um ônibus andando a 30 km/h em comparação a fazer o mesmo com uma bicicleta andando na mesma velocidade. Este conceito foi muito bem explorado pelo gestor Gary Antonacci em um famoso "White Paper"; tema de uma das palestras que realizei pela MYCAP INVESTIMENTOS em 2018. Antonacci nos lembra que para o premiado professor Eugene Fama "momentum" é a grande anomalia dos mercados!

Segue abaixo o que escrevi em 2018 a respeito daquele mercado que começava a se preocupar com o aperto monetário ("Quantitative Tightening - QT") que estava por vir na segunda metade do ano...

Vivemos em um mercado altista de elevado momentum. Não por sua velocidade, mas por sua massa. Ao longo da história, foram raros os momentos de sincronismo global como este que vivemos no atual momento. Tudo sobe! Tudo sobe em conjunto, de forma harmônica, como a música descrita por Jeremy Irons no famoso filme. O som ainda está alto, mas os "homens dos grandes contra-cheques" já se deram conta, de forma intuitiva, que seu ápice fora atingido em algum momento de 2017. Talvez eles não tenham a mínima ideia do que seja o modelo Black & Scholes e nunca ouviram falar sobre a Cópula Gaussiana, mas, ao longo de suas vidas, aprenderam a detectar o exato momento em que a aceleração passa de positiva a negativa. Naturalmente, por representar o "ganha pão" desta elite, tal informação não é compartilhada com o público.

Hoje, de forma bem diferente daquela época, o mercado já não exibe elevado momentum. Se este existe, ele está apontando na direção contrária daquela registrada no período entre 2017 e 2018. 

Há semelhanças importantes entre o momento atual dos mercados e aquele vivido a partir de julho de 2018. Assim como naquela época, Powell está comprometido em levar o FED FUNDS para um patamar entre 2,5% e 3,0%. Naquele ano de 2018, todas as classes de ativos registraram resultados negativos, com exceção dos "treasuries" de curto prazo nos EUA. 

Abaixo, temos o gráfico do endividamento corporativo nos EUA. Observe que, historicamente, este registra níveis elevados.

E voltando ao texto escrito em 2018, concluo com uma "pegada" psicanalítica que julgo ser importante para atravessar os desafios impostos pelo mercado de forma estratégica. 

Nós tentamos detectar tais movimentos de mercado de diversas formas. Seja através dos gráficos, seja através dos relatórios mensais sobre o movimento dos "insiders". Mas, o fato é que estaremos sempre atrasados. Vez ou outra, quando detectamos tais pontos de inflexão, nosso "eu" age de forma rápida tentando clamar o mérito da predição para si. O nosso "eu", de forma engenhosa, correlaciona nossos esforços com eventos que muitas vezes são aleatórios; tudo em nome de uma tal dopamina que tanto gostamos. Entender que este mesmo "eu" que nos trouxe até aqui é o mesmo capaz de nos derrubar, é algo que exige o desenvolvimento da autocrítica. Compreender está ambiguidade talvez seja um dos primeiros passos necessários para se adquirir um estado de espírito vencedor nos mercados.

Marink Martins


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