A bolha do "stay-at-home"

02/09/2020

É isso! É uma bolha e está prestes a explodir! Isso naturalmente é somente a minha opinião. Eu posso estar errado. De qualquer forma, em um momento crítico como o atual, penso que não posso me isentar.

Vivemos a era das narrativas. A narrativa predominante diz respeito a percepção de que o FED está inundando o mercado de liquidez, dando dinheiro aos bancos que, em contrapartida, impulsionam o mercado acionário.

Na verdade, não é bem assim. O FED quando cria dinheiro, o faz de forma digital. Ele compra títulos públicos dos bancos americanos, porém, não transfere dinheiro para estas instituições. Estes recursos ficam no FED sob a forma de reservas excedentes. Tais reservas podem ser utilizadas pelos bancos como colateral para empréstimos bancários. Contudo, tais empréstimos não vem ocorrendo. Os bancos permanecem reticentes devido ao crescente risco de inadimplência.

Observe que mutuários não estão pagando suas hipotecas e ordens de despejos (que estariam "pipocando" diariamente) estão suspensas por lei. Conforme venho escrevendo nas últimas semanas: a crise não pode cessar, pois o processo de normalização deixará o mundo de frente com uma realidade extremamente cruel.

Embora os bancos não estejam concedendo empréstimos e contribuindo para um aumento na velocidade de circulação da moeda, a política monetária praticada pelo FED vem contribuindo para uma redução na taxa dos títulos do tesouro americano e impulsionando as ações americanas através do efeito TINA ("There is no alternative" - não existem outras alternativas de investimento).

Assim, podemos observar na tabela abaixo uma expansão significativa da relação de P/L projetado para algumas ações norte-americanas.

Observe que isso ocorre justamente em um período de enorme incerteza no mundo. Incerteza não só relacionada a pandemia, mas, principalmente, associada ao rumo da economia americana após a eleição presidencial marcada para o dia 3 de novembro.

Observe que os mercados já precificam uma maior volatilidade para o último trimestre. Isso ocorre não só devido ao risco de que Biden será eleito, mas também devido a possibilidade de que qualquer que seja o resultado da eleição, este poderá ser contestado pelo partido derrotado na suprema corte americana. Temos aí reminiscências de algo parecido com a disputa eleitoral entre Al Gore e Bush (filho) em 2000.

As bolsas estão caras em diversas métricas. O estrategista John Hussman gosta de avaliar o mercado utilizando uma relação de P/L própria; uma em que ele ajusta o denominador para que este reflita margens líquidas baseadas em uma média de 10 anos. Veja como o momento atual se compara com períodos históricos:

Finalizo este texto em que classifico o momento atual do Nasdaq como uma bolha afirmando que este vem se apreciando, em grande parte, devido a um evento técnico raro: o aumento no preço da mais importante ação do índice (Apple) acompanhado de um aumento simultâneo ocorrendo na volatilidade implícita associadas aos seus contratos de opções. O gráfico abaixo ilustra de forma muito clara:

Quem atua no mercado de opções sabe da seguinte relação:

Market up --- VOL DOWN

Market down --- VOL UP

O que está em curso, embora raro, já ocorreu em diversas circunstâncias. É doloroso para o vendido, porém, não é sustentável por muito tempo. Penso que estamos nos capítulos finais desta saga.

Marink Martins

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