A centenária versus a novata

19/01/2021

Entramos na temporada de divulgação de resultados nos EUA. Para os mais céticos diante da recente valorização nos preços dos ativos, a temporada se apresenta como uma oportunidade de mensuração do impacto da liquidez gerada pelo FED nos balanços das empresas.

Hoje mesmo tivemos a divulgação do resultado do quarto trimestre de 2020 do banco Goldman Sachs. O resultado foi espetacular! O banco ganhou aproximadamente 4 bilhões de dólares de forma diversificada; com a maior parte do lucro vindo da área de gestão de recursos.

Curiosamente, o valor de mercado do banco é aproximadamente o mesmo da empresa argentina Mercado Libre. Uma grande diferença, entretanto, é que a varejista ainda parece longe de registrar um ano de lucratividade.

Sabe-se que os bancos - principalmente aqueles que um dia foram conhecidos como um "puro" banco de investimentos - historicamente, negociam com múltiplos de P/L bem tímidos, entre 8x e 15x. A explicação padrão para este fenômeno normalmente está relacionada a uma maior percepção de risco e volatilidade nos resultados.

Contudo, aqueles que acompanham a trajetória do Goldman Sachs, sabem que a instituição está, quase sempre, surpreendendo positivamente os seus acionistas. A instituição centenária já passou por diversos desafios, incluindo aqui um período quase devastador entre a crise de 1929 e a segunda guerra mundial. Em algumas ocasiões surgiram escândalos que afetaram negativamente a performance das ações. Como exemplo, posso citar um associado à empresa Penn Central, em 1970, e o mais recente, conhecido como 1MDB, associado ao governo da Malásia.

Mesmo assim, não há dúvidas quanto a capacidade daqueles que atuam pela Goldman de fazer com que a instituição continue crescendo nos próximos anos. O time da Goldman é um dos melhores no business.

Faço esse relato histórico justamente para comparar com a curta história da empresa argentina Mercado Libre. Esta empresa, que hoje é a segunda mais valiosa da América Latina, nasceu no campus da Universidade de Stanford em 1999, no rastro da Ebay.

Conforme mencionado, apesar do forte crescimento em sua receita operacional nos últimos anos, me parece difícil enxergar que a lucratividade irá atingir níveis que justifiquem o atual valor de mercado da empresa.

Distorções como esta não são tão raras assim. Os mercados adotam setores que, em um determinado momento, se tornam "queridinhos"; até que, por alguma razão, o modismo se esvai. Isso já ocorreu com o setor de biotecnologia, com o setor petrolífero, e até mesmo com os próprios bancos de investimentos, durante os anos que precederam a crise financeira de 2008.

Por tudo isso, confesso estar ansioso por ver os resultados de algumas empresas, consideradas por muitos, como aberrações. Ainda hoje, teremos o resultado da empresa Netflix. No 3T20, observou-se uma certa desaceleração no crescimento da empresa; em particular, na América Latina. Vamos ver o que está por vir.

Marink Martins

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