A experiência há de se provar de grande valia

07/05/2019

Historicamente, períodos que coincidiram com um declínio significativo nos ativos dos bancos centrais depositados no FED foram marcados por quedas nas bolsas. Um colapso nas bolsas em 2015/16 talvez tenha sido evitado devido ao tal do sincronismo global entre os diversos bancos centrais. Será que os BCs conseguirão manter os mercados em alta nos próximos meses?   

Há quem diga que o ano de 2018 foi extremamente difícil para os gestores de recursos. A única classe de ativos que se destacava - ações de tecnologia dos EUA - acabou sucumbindo na derrocada vista nas bolsas durante o período natalino. O ano de 2019, porém, começou de forma tão intensa que aquele que ficou para trás sente-se até constrangido em expressar qualquer visão de mercado de natureza fundamentalista.

Houve uma época, perto do fim da década de 90, que se você argumentasse que uma determinada ação estava cara por razões fundamentalistas, você simplesmente corria o risco de parecer antiquado, desatualizado dos novos catalisadores e "drivers" associados a uma nova era.

A verdade é que, para o bem de sua existência e perpetuidade, o mercado de ações deve ser destinado a todos. Refiro-me ao fato de que há fases que beneficiam os fundamentalistas ("value investors") e há outras que beneficiam os caçadores de tendências ("momentum investors"). Há também fases de consolidação onde processos de reversão à média funcionam muito bem.

Um grande risco para aquele que atua no mercado de ações - seja ele um investidor, um especulador, um arbitrador, um caçador de tendência, um visionário - é não perceber que há momentos de atacar e momentos de recuar. Um chinês, muito experiente na arte da guerra, uma vez mencionou sobre cinco leis que devem ser respeitadas para uma vida sem grandes perturbações. Destas julgo ser pertinente para este texto duas delas: a lei das estações e a lei da geografia.

No que diz respeito a primeira, diz ele: "Assim como uma batalha travada no inverno exige um comportamento e equipamentos diferentes de uma guerra no verão, o ser humano precisa respeitar suas próprias estações, não tentando agir quando for o momento de esperar, não tentando esperar no momento de agir".

Já quanto a segunda (lei da geografia), diz ele: "uma batalha em um desfiladeiro é diferente de uma travada no campo. Da mesma maneira, só consegue condições favoráveis a pessoa que presta atenção ao que está acontecendo à sua volta, ao espaço que está ocupando, ao que tem que fazer para ir mais adiante, onde pode ser encurralada, como poderá escapar, se for preciso recuar um pouco."

Um conhecimento mais preciso sobre a estação e a geografia presente no mercado de ações é algo que normalmente só fica claro a posteriori. Assim, julgo que o melhor a ser feito é embarcar em processos de tentativa-e-erro, explorando teses, ciente dos riscos de que tais processos poderão resultar em prejuízos.

E como o mercado de ações não é para os teóricos, e sim para os praticantes, afirmo aqui que pretendo testar a seguinte tese nas próximas semanas: a de que estamos em um processo de exaustão nas bolsas globais similar a dois momentos que convivi em minha história nos mercados de capitais - primeiro semestre do ano 2000 e primeiro semestre do ano de 2008.

Não vou te mostrar gráficos. Adoro gráficos mas não sou fã de análise técnica. Aquele que compara gráficos de mais de 10 anos, assassina a história e a cultura (deixo isso para um outro texto).

Dito isso, quando me lembro do ano 2000 nos mercados, a primeira coisa que me vem a mente é o IPO da empresa de software RedHat. Já quando o tema é primeiro semestre de 2008, logo lembro de como a falência do Banco Bear Stearns me pareceu, naquele momento, um "non-event" (devido a interferência do FED, que junto com o JP Morgan, pareciam ter resolvido toda a situação... #sqn!!!)

Hoje, a onda de IPOs nos EUA está a todo vapor. A caminho uma empresa que sempre desejei "shortear": a empresa de co-working WeWork! Especula-se que tal empresa irá a mercado com uma capitalização de mercado de US$45 bi! No ano passado a empresa contou com receita de US$1,8 bi e teve prejuízo de US$1,9 bi; A empresa que conta com aproximadamente 400 mil usuários de seu serviço, nos últimos anos investiu em uma escola em Nova Iorque e em uma empresa de piscina de ondas.

Seja qual for a métrica a ser aplicada, o "valuation" desta empresa parece absurdo. O pior é que isso parece ser sintomático de uma fase onde ao invés de se discutir PREÇO/LUCRO, fala-se somente de PREÇO/VENDAS.

Um outro ativo que pretendo experimentar uma venda a descoberto é a rede de restaurantes norte-americana Shake Shack. A empresa negocia com um múltiplo de P/L de 91x o lucro projetado e seu último resultado mostrou deterioração de diversos indicadores de performance. Há sempre o risco de que uma outra empresa - mais insana - venha a pagar um prêmio e resolva tirar o famoso Shack do mercado... por isso, é necessário ser prudente quanto ao tamanho da aposta.

Mas, e as ações brasileiras?, pergunta o leitor. Bem, continuo achando que o Brasil nada mais é do que uma oportunidade tática - compra-se com P/L abaixo de 10x e vende-se com P/L acima de 13,5x. É lógico que o "L (lucro projetado)" nesta equação é extremamente incerto e sujeito a controvérsias. De qualquer forma, estou alinhado com o pensamento do gestor Pedro Cerize: há mais gente no mercado temendo perder a alta do que temendo perder dinheiro.

E aqui cabe uma pergunta interessante: você, por acaso, sabe quando rendeu o IBOV entre março de 1986 e hoje? Aproximadamente 7,5% em dólares! Eu aposto que uma enquete com os 300 mil novos participantes do mercado sobre tal rendimento indicaria um número bem mais elevado do que este; talvez o dobro!

Mas aí, você pergunta: mas por que março de 1986, Marink? Bem, obtive os dados acima ao pesquisar sobre o famoso gestor Dório Ferman. Nunca esqueci que uma vez me disseram que o segredo de seu sucesso não estava em achar boas ações, mas em simplesmente evitar os ciclos de baixa nas bolsas.

Considerando aqui a possibilidade de que a moeda brasileira não esteja cara, o rendimento associado a parte mais curta da curva de juros brasileira - aquela que você pode tirar proveito investindo via Tesouro SELIC e Tesouro IPCA de até 5 anos de prazo - me parece bem interessante para os próximos meses. Eu, como você muito bem sabe, me concentro no meu Cerco Dinâmico em Ações onde busco um retorno superior a este patamar. Mesmo assim, vou trabalhar para que a mentalidade e a lógica estejam condizentes com as observações discutidas aqui.

Marink Martins

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