A hora de consertar o telhado é quando não está chovendo!

20/10/2017

Embarquei neste desafio de escrever, palestrar e ensinar com muito gosto. Por já ter enfrentado adversidades neste mercado, e mais importante, por já ter atuado pelo "outro lado" -- o lado corporativo, como gerente de Relações com Investidores -- passei a adotar uma postura cautelosa diante do que é informado ao mercado. A assimetria de informação é imensa! Por isso mesmo, julgo que este momento, um tanto "ensolarado" no mercado, represente uma ótima oportunidade para que você analise sua carteira e seus objetivos.

Eu, particularmente, vejo semelhanças entre o atual momento de mercado e um período que vivi no começo de minha carreira, há 20 anos. Refiro-me ao primeiro semestre de 1997, um período marcado por um elevado grau de exuberância nas bolsas de valores ancorado em expectativas otimistas com relação ao programa de privatização brasileiro. Como sabemos, tal exuberância foi rapidamente dizimada pelos "abalos sísmicos" provocados pela crise asiática que teve início na Tailândia em julho daquele ano.
Não estou prevendo de forma alguma que evento similar deva ocorrer nos próximos meses. Entretanto, se naquela época tínhamos a vulnerabilidade do câmbio fixo, hoje temos um problema fiscal e incertezas políticas que representam uma espécie de espada de Dâmocles sobre os comprados em ativos de risco no Brasil. É certo que estamos vivendo um certo repique na economia. Pudera! Batemos lá no fundo. Mas, mesmo assim, deve-se levar em consideração que os estímulos gerados via saques nas contas do FGTS contribuem para uma sensação de recuperação na economia. 


Do ponto de vista fundamentalista, a bolsa brasileira não está uma barganha como alguns acreditam. De acordo com cálculos do banco Credit Suisse, o índice IBX 100, que reúne as 100 maiores empresas brasileiras em termos de capitalização de mercado, negocia com uma relação de Preço / Lucro por ação projetado para os próximos meses na casa de 13,5x, um pouco mais de um desvio-padrão acima de sua média histórica de 11,5x. Tal valuation, por si só, não chega a ser um problema. Com a taxa SELIC em franco declínio, nada mais natural do que uma expansão de múltiplos. O problema maior, entretanto, é que sem uma solução fiscal para o Brasil, o país eventualmente poderá ser forçado a elevar ainda mais a carga tributária; uma medida certamente negativa para os mercados. 


Um outro fator importante que não deve ser negligenciado diz respeito ao comportamento do mercado externo. Vivemos um longo período de calmaria que chega a levantar suspeita de participantes mais experientes no mercado. Riscos geopolíticos como um conflito direto entre os EUA e a Coréia do Norte, com repercussão para a relação comercial entre os EUA e a China, parecem ser ignorados pelo mercado. Tudo isso, sem mencionar que o mundo começa a ensaiar um movimento de "desmonte" dos maciços estímulos monetários capitaneados pelos principais bancos centrais do mundo desenvolvido. Como se comportará os mercados quando o banco central europeu deixar de comprar 60 bilhões de euros a cada mês?

A verdade é que o comportamento dos mercados no curto prazo é imprevisível. Como diz o famoso autor Nassim Taleb, especializado em estudos sobre Incerteza: alguns creem que os modelos são estúpidos e os mercados inteligentes; outros, pensam o oposto. O que muitos simplesmente ignoram, é que tanto os mercados como os modelos, em alguns casos, são dignos de enorme estupidez.

Marink Martins, CNPI

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