A ilusão de liquidez

16/05/2018

Aquele que está de fora e olha para Wall Street, ou mesmo para a Faria Lima, muitas vezes imagina instituições bem organizadas onde jovens ambiciosos alocados em diversas funções atuam de forma coordenada e sincronizada em busca de operações financeiras rentáveis a qualquer preço.

Embora a percepção quanto ao objetivo talvez se aproxime da realidade, a ideia de que as partes atuam de forma bem organizada é, em muitos casos, uma pura ilusão.

Um bom exemplo do que busco ilustrar é o fato de que as áreas de estruturação e "Investment Banking (IB)", aquelas responsáveis por levar aos mercados os diversos títulos e ações negociados diariamente, nos últimos anos, trabalharam a todo vapor, e levaram aos mercados um elevado volume de títulos em diversas classes de ativos.

Sabe-se que nos últimos anos o volume de ETFs (cesta de ações ou títulos de renda fixa de uma mesma classe ou setor) disparou. Nos EUA, de 2006 a 2017, o volume de ETFs de títulos de renda fixa corporativos se multiplicou 7x. No mesmo período, o volume de títulos emitidos por países emergentes mais do que dobrou, saindo de US$5 trilhões para US$11 trilhões. Em suma, uma verdadeira festa nos departamentos de IBs dos bancos.

Já na área de "trading", a batida parece ser outra. Como sempre ocorre, alguém tem sempre que pagar o pato em momentos de crise. E embora pareça que já estejamos distantes da grande crise ocorrida em 2008, tal evento não só deixou cicatrizes, mas também mudou a forma de atuação desta área, responsável por manter os mercados líquidos e em equilíbrio.

A Lei Dodd-Frank talvez seja o maior legado regulatório do período pós-crise.

Na busca por evitar os riscos sistêmicos causados por diversas instituições financeiras na década passada, a Lei exigiu um maior comprometimento dos bancos em diversas operações financeiras.

Os bancos, por sua vez, recuaram e reduziram suas exposições no mercado.

Ironicamente, ao invés de reduzir os riscos sistêmicos, o que os reguladores conseguiram foi uma transferência de tal risco das carteiras dos bancos para as carteiras de fundos e pessoas físicas.

O curioso é que chegamos a um ponto preocupante onde o volume de títulos emitidos supera o estoque de títulos nas carteiras dos formadores de mercados ("market makers") em uma escala inusitada.

A consequência de tal desequilíbrio já começa a se manifestar de forma sutil nos mercados emergentes através de um movimento de aversão a risco que faz com que as moedas de diversos países se depreciem.

O risco de liquidez é algo que deve ser levado a sério, pois, como uma vez disse Mark Twain, o que "mata" o indivíduo não é o que ele não sabe, mas o que ele assume como certo e que, por alguma razão, deixa de ser.

Marink Martins  

Olá, aqui é o Marink Martins e quero te dar boas vindas ao MyVOL Premium - o meu serviço de análises e curadoria internacional cujo objetivo é fazer com que você esteja sintonizado com os mercados globais.

E agora, no programa "Half Time Report" da CNBC, só se fala em "fear of mission out" (medo de ficar de fora). O curioso é que só falam isso a respeito do S&P 500 que está a um pouco mais de 1% da sua máxima histórica. A Microsoft está registrando uma nova máxima histórica.

Há muito a ser dito quando comparamos o "boom" tecnológico dos anos 90 com este que testemunhamos na atualidade. Pensando nisso, a Datatrek fez um gráfico ilustrando o comportamento do índice Nasdaq Composite durante 1.000 dias nos anos 90.

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