A materialização de riscos previamente discutidos

17/09/2021

Na semana passada compartilhei um vídeo apresentando 5 argumentos para se apostar contra o índice S&P 500. Dentre eles, 3 estavam associados a uma expectativa de uma maior inclinação na curva de juros americana. O quarto estava associado a possíveis choques oriundos do caso Evergrande. Já o quinto dizia respeito ao simbolismo associado à troca de comando na Amazon. 

A essa altura, até a minha mãe - que nada tem a ver com o mercado - já está ouvindo falar da tal da Evergrande -- segunda maior construtora chinesa que está quebrada e que tem um passivo de 300 bilhões de dólares. Será que o governo chinês se sensibilizará com a adversidade e voltará com estímulos fiscais e monetários como já fizera no passado? A Gavekal vem atribuindo uma baixa probabilidade que isso ocorra no curtíssimo prazo. É possível que haja um corte adicional no compulsório, mas poucos esperam expressivas injeções de liquidez como no pós-crise de 2008 e no estouro da bolha chinesa de 2015.

Essa incerteza chinesa foi ontem responsável por uma "chacina" no preço das ações das produtoras de commodities brasileiras. Vale, CSN e Suzanno despencaram. 

Mas, vamos ao tema internacional. A Gavekal nos apresentou diversos slides. Aproveito para compartilhar alguns com vocês, seguidos de uma breve explicação.

1. Principais preocupações quanto ao mercado de ações dos EUA:

Acima temos os riscos associados a liquidez (TGA e teto do endividamento/"shut down" do governo dos EUA), riscos de escassez e inflação, e riscos de uma maior inclinação na curva de juros. 

Acima, observamos a dinâmica da conta TGA ("Treasury General Account"). Conforme venho escrevendo há meses, o saldo despencou e agora precisa ser normalizado. Isso vai causar um dreno de liquidez com repercussões importantes na alocação de recursos entre ativos de "growth" e "value".

Acima, observamos que a inflação americana, medida pelo índice PCE, está bem acima da média. Uma situação que vai demorar a se normalizar devido a todos os problemas nas cadeias de produção muito discutidos na mídia. 

Dentre as diversas frentes que apresentam escassez, a mais preocupante diz respeito a mão-de-obra. Observe que, nos EUA, há mais vagas do que funcionários a disposição. A pandemia levou muita gente a se aposentar mais cedo. Além disso, há um processo de "suburbanização" nos EUA que não está ocorrendo em lugar algum no mundo. Tudo isso resultará em maiores pressões por salários mais elevados. 

Os economistas adoram falar sobre o hiato no PIB (medida de ociosidade). Pois é, nos EUA, tal hiato está se fechando rapidamente, o que contribui para situações de escassez e para maiores preços. 

No gráfico acima, observamos que os restaurantes -- importante representante do setor de serviços (negativamente impactado pela pandemia) -- já retomou os níveis pré-pandêmicos. 

Por último e mais importante, a Gavekal nos diz quais classes de ativos tendem a se valorizar em 3 cenários distintos no que diz respeito as taxas de juros associadas ao título de 10 anos emitidos pelo tesouro. De forma resumida, se os juros sobem, as "Big Techs" tendem a sofrer. Já os bancos e outras ações associadas a valor tendem a performar melhor. 


Marink 

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