A melhor estratégia de todos os tempos!

18/05/2018

Será que existe uma estratégia que seja resiliente e prospere em qualquer ambiente de mercado? Antes que você ache que eu vá tentar aqui te convencer que a minha estratégia é a melhor para você, saiba de antemão que não acredito nesta ideia.

O que eu desejo hoje é compartilhar uma história com vocês sobre dois irmãos que receberam uma herança em ações. Uma história que retrata um momento de mercado no início da década passada. Seu desfecho é para mim circunstancial. Isto é, condicional a situação de momento. Seu título é: "Se ficar girando você vai perder o papel".

Mas quem disse que ficar com o "papel" é sempre bom. As vezes o melhor é ficar líquido.

No seu percurso como investidor você irá ouvir sobre assimetrias e convexidade. Trata-se de conceitos importantes que devem ser estudados. São eles que tornam a bolsa de valores algo fascinante.

Tem gente que gosta de girar na bolsa. Tem gente que gosta de montar carteira, sonhar em ser um Warren Buffet. Eu já gosto da ideia de estratégias de hedge, buscando ganhar com a bolsa em baixa.

Fazer o que gosta é definitivamente um luxo. Vivemos em um mundo onde a grande maioria é pobre.

Se você está em condições de investir, sinta-se um privilegiado. Comemore! Evite alavancagem. Comece esta sexta-feira simplificando a sua vida financeira para que você tenha um fim de semana em paz.

Segue o texto:


Se ficar girando, você vai perder o papel! 

Há 19 anos, dois irmãos receberam de herança ações da empresa Caemi, de forma que cada um pôde agregar a seu patrimônio uma posição em ações, que a preços da época, equivalia a R$100.000.

Um deles, Zé, era um ocupado engenheiro de telecomunicações, que na época, vivia fazendo hora-extra, trabalhando para a antiga Telerj Celular, empresa que hoje faz parte da Vivo S.A.

Zé, que mal tinha tempo de almoçar, nem sequer se deu ao trabalho de transferir a custódia de suas ações do agente escriturador para a CBLC; transferência esta necessária para que ele pudesse, eventualmente, vender suas ações através de uma corretora.

Já seu irmão, Chico, era um Agente Autônomo de Investimentos que atuava pela antiga corretora Égide. Era um operador safo que, além de prover uma execução rápida a seus clientes, conseguia multiplicar sua renda mensal através do giro de sua carteira proprietária de ações.

Adepto à análise técnica, Chico desenvolvera um método que na época provara-se extremamente eficaz: Sempre que um de seus papéis em carteira subisse por mais de 5 dias seguidos, e seu preço rompesse a banda superior do Bollinger, ele os vendia e ficava à espera de um momento mais oportuno para recomprá-lo.

Todavia, no início da década passada, mineradoras e siderúrgicas ainda viviam os efeitos da crise asiática que deixara o mercado extremamente ofertado. Do ponto de vista fundamentalista, ações como CSN, Usiminas, Acesita, Vale e Caemi, estavam uma barganha, mas viviam em um tremendo "bear market". Ainda que renomados analistas dos principais bancos de investimentos da época recomendassem a compra destes papéis, repiques nos preços de tais ações provavam-se momentâneos diante da presença de uma insistente força vendedora global.

As condições de mercado eram perfeitas para a estratégia de Chico.

No início do ano 2000, através do uso de sua técnica de giro utilizando sua posição em ações da Caemi, ele conseguiu ganhar R$150.000 somente com o giro de tais ações. Boa parte do lucro de tais operações era investido em uma das empresas de melhor perspectiva da época, a Embratel.

O que poucos sabiam é que uma das maiores transformações econômicas já vistas no planeta estava em curso. A China, que passara a década anterior abrindo seus mercados para o ocidente, caminhava em direção a fazer parte da Organização Mundial do Comércio.

Já o Brasil buscava organizar sua economia após a desvalorização do real e vivia o medo de um eventual governo petista.

Coincidentemente, foi justamente nesta época que os netos do lendário empresário Augusto Trajano de Azevedo Antunes, fundador da Caemi, com interesses dispersos, colocavam à venda o controle da empresa, que na ocasião, era a segunda maior mineradora brasileira.

Dentre os interessados na compra: a Vale, a Anglo American, a BHP e Rio Tinto.

Estávamos em um período que ficou marcado pelo estouro da bolha do Nasdaq. Era uma fase de intensa volatilidade, perfeito para operadores rápidos e "desapaixonados" como Chico que tinha em sua carteira de ações 3 papéis: Caemi, Eletrobras, e Embratel.

A primeira, herdada, representava a segurança. A segunda representava a expectativa de renda (dividendos). Já a terceira, representava o sonho da expansão do mercado de fibra ótica no Brasil (pelo menos era o que dizia Chico na ocasião).

Na época, Chico vivia fazendo um giro "frenético" no mercado de ações. No fim do ano 2000, seu patrimônio, que em 1999 era o dobro do de seu irmão, Zé, triplicara e se aproximava da marca de R$500.000.

De repente, as ações da Caemi entraram em ciclo de alta inusitado. No sexto dia de alta, com o preço da ação trucidando a banda superior de Bollinger, Chico não hesitou e vendeu toda sua posição em Caemi, como sempre fizera com tanto sucesso nos últimos meses.

Só que desta vez foi diferente. O preço das ações da Caemi nunca mais voltou a um patamar que permitisse com que Chico as recomprasse com lucro. Na verdade, o preço delas explodiu! De ponta a ponta, o preço das ações da Caemi subiu 8.000%.

Apesar de um gosto amargo na boca ao ver suas queridas ações brilharem nas mãos de terceiros, Chico ia muito bem, ganhando dinheiro com corretagem e giro. Em um dado momento, disse para sí: "Que se dane as Caemis, meu negócio agora é Embratel"!

Mas o Sr. Mercado adora uma crueldade. Eis que a empresa americana Worldcom, controladora da Embratel, se envolve em um tremendo caso de corrupção que resulta em sua eventual falência. Sem capital para investir no Brasil, e diante de uma enorme inadimplência no mercado brasileiro, a Embratel começa a sofrer adversidades contábeis de forma que o preço de suas ações começa a cair de forma rápida e contínua.

Chico, que havia desenvolvido e aperfeiçoado uma técnica para mercados em alta, não sabe o que fazer e "congela" diante de tamanha frustração. Carrega suas ações até o fim, e acaba aprendendo, da forma mais dolorosa possível, que ações, assim como opções, também podem virar "pó".

Aumentando sua frustração, vê seu lucro obtido através do giro ir embora com o "melt-down" de sua adorada ação. No fim de 2003, seu patrimônio que atingira o patamar de R$800.000 no ápice, recuou para metade deste montante.

Ironicamente, Zé, que só ouvia falar do mercado de ações em seus raros encontros para tomar um chopp com seu irmão, foi convencido pelo irmão a vender todad as suas ações em 2003 diante daquela que era uma das altas mais expressivas da história da bolsa brasileira.

Na ocasião da venda, a carteira de ações de Zé valia R$5 milhões!

No embalo, Chico conseguiu também convencê-lo a finalmente tirar umas férias.


Marink Martins

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