A melhor reserva de valor

01/07/2020

Em um mundo onde os gastos dos governos parecem ter saído do controle, uma importante dúvida paira na mente dos investidores: onde investir para preservar o poder de compra da moeda?

O veterano Charles Gave reflete a respeito deste tema há anos e nos diz que, nas últimas décadas, o mundo ofereceu aos investidores três importantes fontes de reserva de valor:

  • O Ouro
  • Títulos do tesouro americano de longo prazo
  • O índice S&P 500

Parece haver um consenso entre os investidores de que a segunda alternativa - títulos de renda fixa emitidos por governos, inclusive o americano - não se apresentam como uma boa alternativa. A razão para esta afirmação reside no entendimento de que seus preços subiram demais, de forma artificial. Trata-se do que hoje é conhecido como repressão financeira ou eutanásia do rentista.

Assim, nos restam avaliar o ouro e o índice S&P 500. Pode-se dizer que o primeiro está ligado a escassez enquanto o segundo a expectativa de eficiência na economia.

O ouro não gera renda. Já as empresas contidas no índice S&P 500 geram dividendos. Curiosamente, a Gavekal nos apresenta um gráfico interessante ilustrando a relação histórica entre os dividendos pagos pelas empresas do índice S&P 500 e a grama do ouro. Na verdade, o gráfico ilustra quantas gramas de ouro podem ser adquiridas com o valor dos dividendos pagos pelas empresas do famoso índice.

Observe que há um claro processo de reversão a média nesta relação. Um outro ponto que não deve ser ignorado é o fato de o pico desta relação ter ocorrido justamente em 1971, o ano que representou o fim do Acordo de Bretton Woods e início do ciclo fiduciário das moedas. Abordei brevemente este tema ontem, ao falar sobre o livro do Paul Volcker, "Keeping At It".

Contudo, quando analisamos pelo viés do retorno total dos respectivos investimentos (reinvestindo os dividendos pagos), temos um gráfico em que o índice S&P 500 se destaca frente ao ouro.

Aqueles que acompanham os meus comentários por aqui já sabem que Charles Gave é fã dos investimentos em ouro como uma forma de preservar valor. Charles talvez seja um dos mais céticos entre os estrategistas, sempre denunciando a insanidade daqueles responsáveis pela emissão das moedas.

Concluo este texto, convidando o leitor a considerar medir o desempenho econômico de suas operações contra algo que, de fato, preserve o poder de compra. O ouro certamente pode desempenhar este papel em um mundo onde os governos estão destinados a embarcar em uma longa trajetória de déficits nominais. Há quem diga que o papel moeda tende a convergir para o seu valor intrínseco: zero!

Marink Martins

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