A mensagem implícita no gráfico US 60/40

28/11/2019

No gráfico acima temos a performance anual de uma carteira composta por ativos norte-americanos cuja alocação consiste de 60% em ativos de renda fixa de longo prazo e 40% em ativos de renda variável. Para efeito desta análise, vamos assumir aqui que a parte da renda fixa está em títulos de 10 anos do governo americano enquanto a parte que está em renda variável em uma carteira de ações atrelada ao índice S&P 500.

Confesso que fiquei impressionado com a clara tendência de reversão à média ilustrada pelo gráfico acima.

Observe que os retornos durante os anos 80 ficaram próximos a uma média elevada, um pouco abaixo de 20%. Isso ocorreu pois o choque de juros feito pelo FED de Paul Volcker conteve a inflação e permitiu uma queda substancial da taxa de juros. Assim, a década de 80 foi marcada por uma forte valorização dos títulos de renda fixa e variável.

Curiosamente, o grande "bull market" dos anos 90 - aquele iniciado logo após o IPO da empresa Netscape em agosto de 1995 - não foi capaz de gerar retornos significativos para a carteira 60/40. Isso se deu devido ao fato de que o FED elevou as taxas no período, buscando conter as pressões inflacionárias da ocasião.

Mas, vamos ao que importa: o presente!

Uma carteira 60/40 montada hoje consiste de 60% em ativos com rendimento de 1,75% e outros 40% em ativos cujo P/L projetado para 2020 está próximo a 20x. Essa composição, por definição, é uma consistente com retornos baixíssimos - algo que, mantendo tudo mais constante, não deve superar 3% ao ano.

Para que a carteira registre retornos mais elevados será necessário que a taxa de juros caia e/ou que os múltiplos sobre o lucro das empresas do índice S&P 500 continuem a se expandir. Isso é possível? Sim. É provável? Não.

Mas mesmo que ocorra uma combinação de eventos que faça com que 2020 seja mais um ano com retornos próximos a 10%, os mercados, tanto o de renda fixa como o de variável, se parecerão cada vez mais com um esquema ponzi, fadados a um eventual crash.

Por que? Perguntaria o otimista. Devido a artificialidade nos preços associados aos títulos de renda fixa.

A contínua valorização de tais ativos é uma função de intervenções contínuas das instituições monetárias. O FED controla somente a parte curta da curva de juros. Basta surgirem sinais de pressões inflacionárias e a curva de juros se inclinará de forma significativa, transferindo parte desta artificialidade mencionada, da renda fixa para o mercado acionário. A única forma de se eliminar tal artificialidade é uma correção de preços. Afinal, a cura para preços elevados e artificiais é ter os preços ainda mais elevados e artificiais. A partir daí a gravidade dá conta do resto!

Marink Martins

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