A próxima reunião do FED e o risco de um comunicado sobre a complacência dos mercados

20/01/2020

Não parece, mas já faz aproximadamente 25 anos que Alan Greenspan, o mais longevo entre os presidentes dos FED, proclamou uma das mais famosas perguntas de todos os tempos no que tange os mercados de capitais. Em tradução livre perguntou o famoso "maestro": "Mas como saber quando a exuberância irracional provocou uma escalada indevida nos preços dos ativos, deixando-os vulneráveis a eventuais contrações econômicas como aquela vista no Japão durante a última década?"

Segue abaixo o parágrafo extraído do discurso feito por Greenspan cujo título era "The Challenge of Central Banking in a Democratic Society" (Os desafios da política monetária em uma sociedade democrática). Vale a pena entender o contexto em que se insere a famosa pergunta mencionada acima. (Para uma tradução basta fazer uso da ferramenta Google Tradutor).

Clearly, sustained low inflation implies less uncertainty about the future, and lower risk premiums imply higher prices of stocks and other earning assets. We can see that in the inverse relationship exhibited by price/earnings ratios and the rate of inflation in the past. But how do we know when irrational exuberance has unduly escalated asset values, which then become subject to unexpected and prolonged contractions as they have in Japan over the past decade? And how do we factor that assessment into monetary policy? We as central bankers need not be concerned if a collapsing financial asset bubble does not threaten to impair the real economy, its production, jobs, and price stability. Indeed, the sharp stock market break of 1987 had few negative consequences for the economy. But we should not underestimate or become complacent about the complexity of the interactions of asset markets and the economy. Thus, evaluating shifts in balance sheets generally, and in asset prices particularly, must be an integral part of the development of monetary policy.

É importante destacar que o discurso acima não foi feito após uma das reuniões feitas pelo FOMC, mas sim em um jantar organizado pelo American Enterprise Institute For Public Policy Research. Mesmo assim, a reação dos mercados foi imediata. O principal índice da bolsa japonesa caiu instantaneamente 3% no momento da fala. Os principais índices americanos também registraram quedas expressivas. O mal-estar, entretanto, provou-se passageiro e os mercados retomaram a tendência de alta nas sessões subsequentes.

Quem observa o gráfica acima julga que a fala de Greenspan não teve efeito algum, pois os mercados seguiram seu movimento apreciação. Entretanto, quem vivia o dia-a-dia dos mercados sabe muito bem o quanto o mercado "chacoalhou" naqueles dias. 

Dito isso, creio que hoje não estamos distantes de um momento em que alguma "autoridade de mercado" será capaz de exercer influência semelhante nos mercados àquela vista em dezembro de 1996. As próximas reuniões do FED estão marcadas para ocorrer na última semana deste mês. Considerando que Jerome Powell vem optando por uma política de comunicação bem aberta, com amplo espaço para perguntas e respostas, é bem provável que os jornalistas de plantão o provoquem com uma pergunta relacionada ao tema exuberância irracional nos mercados.


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Neste sentido, o investidor cujo foco está no curto prazo deverá estar preparado em caso de uma resposta que tenha como objetivo conter tal movimento. As repercussões poderão ser globais, não só derrubando ações cujos preços são considerados "esticados" (setor de tecnologia e consumo), mas também ações de empresas em mercados emergentes.

Curiosamente, o próprio Alan Greenspan, com seus quase 94 anos, não hesita em nos chamar atenção para o que é conhecido como "Wealth Effect" (Efeito Riqueza). Diz ele que uma eventual queda de 10% no índice S&P 500 tende a contribuir para uma retração no PIB dos EUA de aproximadamente 0,5%! Sendo assim, um comentário chamando atenção para um elevado nível de complacência nos mercados é algo que poderá ser muito bem-vindo para aqueles focados no longo prazo.

Marink Martins 

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