A recente realização de lucros na bolsa e o "home country bias"

29/09/2017

Há 40 dias, mais precisamente no dia 20/8, o banco Credit Suisse divulgou seu relatório trimestral com uma recomendação desfavorável aos ativos brasileiros (UNDERWEIGHT), estabelecendo como preço alvo para o Ibovespa 74.000 pontos. Por coincidência ou não, as semanas subseqüentes foram marcadas por expressivos fluxos de capitais que levaram o indicador brasileiro rapidamente a vizinhança dos 76.000 pontos. Uma puxada que deixou muitas ações, em particular aquelas associadas a vestuário e bens de consumo, extremamente "caras" do ponto de vista de relações projetadas de (Preço)/(Lucro por ação).

O leitor destes Comentários rapidamente notou o meu desconforto com tal movimento, pois passei alguns dias alertando investidores a não embarcar em tamanha euforia. Em nenhum momento recomendei uma virada de mão para a venda, pois acredito que vivemos um período "um tanto benigno" para as bolsas. A minha mensagem foi, e ainda é, uma na qual julgo que o momento não é propício para o aumento de risco, e sim o contrário. Investidores comprados nos ativos mencionados devem aproveitar o ambiente de "céu de brigadeiro" para reduzir suas posições e acumular o que os americanos comumente chamam de "dry powder" (munição).

No início desta semana, encontrei uma gestora de um clube de investimentos que vem registrando uma ótima performance graças as suas posições em M Dias Branco e Lojas Renner. Em uma rápida conversa, utilizando diversos argumentos macroeconômicos locais, ela se mostrou segura de que o Ibovespa estará acima de 130.000 pontos em março de 2018. Brinquei que eu venderia tudo antes de 85.000 e ficaria vendido descoberto a 90.000 pontos. Deixando o "achismo" de lado (tanto o dela quanto o meu), fui para o terminal da Bloomberg investigar se a euforia atual era, de fato, um evento localizado. Afinal, onde quer que você esteja, há sempre uma influência local chamada aqui, em inglês, de "home country bias", o que quer dizer uma tendência a sermos influenciados por notícias locais. Um ótimo exemplo, ilustrativo de tal fenômeno, foi o "boom" das commodities vivido na década passada. Para alguns, a disparada do Ibovespa tinha muito a ver com decisões macroeconômicas tomadas pelo governo brasileiro durante o período. Entretanto, um gráfico de longo prazo comparando a performance entre os índices brasileiro e mexicano mostrava claramente a presença de uma influência global, dada tamanha correlação entre os movimentos durante o período entre 2002 e 2008. Naturalmente, investidores devem ter em mente que os mercados habitam o mundo da complexidade, onde as relações de causa e efeito nunca são precisas.

Dito isso, investiguei o comportamento do risco-brasil medido pelo CDS de 5 anos. O CDS é uma espécie de "seguro" que protege o titular do contrato contra um eventual calote do país ou empresa emissora de títulos de dívida. Quanto maior o CDS, maior é o risco associado ao emissor. Analogamente, quando este prêmio de risco cai, podemos entender que há uma melhora na percepção do mercado com relação a tais emissores. E é isso que vem acontecendo com o Brasil.

Entretanto, note que este não é um fenômeno estritamente brasileiro. Esta melhora de percepção abrange outros mercados emergentes como Turquia, Indonésia e Colômbia; três países que desfrutam de melhores condições econômicas que o Brasil quando o quesito é relação (dívida bruta)/(PIB). Segue o gráfico:

Não precisamos de ferramentas sofisticadas para ver que há uma forte correlação entre tais CDSs. Temos aqui o da Indonésia (linha branca), o do Brasil (linha amarela), o da Turquia (linha roxa) e o da Colombia (linha vermelha).

NOTEM que, aquela mínima registrada há poucos dias, por COINCIDÊNCIA OU NÃO, ocorreu no mesmo dia em que o Ibovespa começou este mais recente declínio.

Marink Martins, CNPI

www.myvol.com.br