Ações em “Lock-up” – uma oportunidade para quem faz o dever de casa

05/04/2019

Há quem acredite na eficiência dos mercados. Eu, sinceramente, não acredito. Embora as oportunidades de arbitragem nos mercados tendem a ser passageiras, elas se manifestam de diversas formas.

Oriundas da tendência humana ao excesso, podemos muitas vezes detectar oportunidades nas taxas associadas aos índices futuros, nas volatilidades implícitas associadas aos contratos de opções, e muitas outras.

Uma que me chamou atenção e que tive oportunidade de conviver de uma forma peculiar - do outro lado do balcão de investimentos (atuando na área de RI da antiga BRIN3) - está relacionada aos vencimentos de lock-ups. Deixe-me explicar melhor.

É comum em IPOs que diretores e sócios das empresas emissoras recebam ações cuja a venda é restrita por um determinado prazo.

No caso da empresa BRIN (Brasil Insurance Participações, hoje, com um novo nome - Alper), que foi a mercado em novembro de 2011, a diretoria e demais sócios receberam ações restritas que só podiam ser vendidas nas datas de aniversário do IPO. Sendo assim, era notório a todos que tiveram acesso ao prospecto de lançamento das ações, que a cada novembro dos anos subsequentes ao IPO, poderia haver uma maior pressão vendedora de ações fruto da suspensão dos ditos lock-ups (restrição à venda).

Se o mercado fosse eficiente, o normal seria uma certa antecipação a tal evento. O que se observou, entretanto, foi uma enorme pressão vendedora na primeira data de aniversário do IPO. Lembro-me que o preço das ações da empresa caiu de R$19 pra algo próximo a R$16,70 em um curto espaço de tempo.

Nos anos seguintes, embora as quedas tenham sido menos expressivas, tal comportamento se repetia.

Abordo este tema pois como já sabemos, em breve, devemos estar diante de uma onda de IPOs no mercado brasileiro. Situações como a descrita acima, estarão presentes e devem ser monitoradas de perto pois representam uma oportunidade de ganhos para aqueles que fazem o devido dever de casa.

Lá nos EUA tivemos na semana passada o IPO da empresa concorrente da UBER - a Lyft. Por lá, tanto a diretoria como os demais acionistas pré-IPO só poderão se desfazer de suas ações em setembro de 2019.

Até lá, a empresa cuja capitalização de mercado é hoje de US$20 bilhões, terá suas ações oscilando ao sabor de um free float de somente 10% das ações emitidas.

Aí reside uma outra oportunidade. É comum vermos o preço de ações de empresas novatas oscilando bastante. Muitas vezes tomamos o preço de mercado como uma boa representação de seu valor, mas esquecemos que muitas vezes o todo é representado por uma pequena fatia nas mãos de um grupo que não está comprometido com uma aposta de longo prazo na empresa.

Assim, embora eu tenha argumentado ontem que o crescente nível de automação dos mercados faz com que quase tudo seja "mapeado", há oportunidades para aqueles que ainda dedicam tempo a ler os tais prospectos. 

Marink Martins

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