Ainda sobre o varejo digital

28/07/2020

Você acredita que existe uma conhecida empresa na B3 que, ao longo dos últimos 10 anos, registrou prejuízo em todos os anos (prejuízo acumulado de quase 3 bilhões de reais) e, mesmo assim, teve o valor de suas ações apreciado em 4,5x?

Refiro-me a B2W, a holding que é dona da Americanas.com, Shoptime, Submarino e Sou Barato. É meu amigo, esse é o tipo de febre especulativa que se faz presente em alguns segmentos da bolsa brasileira. A dona do Sou Barato na minha opinião está caríssima, rsrs

Mas aí você diz: acabou o varejo físico!!! Todos irão migrar para o comércio eletrônico!!!

Bem, muita calma nesta hora. Você sabia que, apesar do forte crescimento do varejo digital nos EUA, este segmento representa somente 12% do total de vendas ao varejo no país? Sim, este segmento cresce a taxas bem mais elevadas do que o varejo físico, porém, você deve entender que trata-se de um processo, e o caminho é longo.

A pandemia certamente veio para acelerar o processo. Contudo, os preços das ações das empresas ligadas ao varejo digital brasileiro estão elevadíssimos. Eu diria que estão bem a frente da curva de crescimento do segmento, já refletindo um cenário de perfeição.

Como evidência sustentando esta afirmação, compartilho uma tabela ilustrando a projeção de vendas online no Brasil de acordo com a Goldman Sachs. O banco projeta vendas de aproximadamente 250 bilhões de reais em 2024 -- um salto de 100% em relação ao projetado para 2020. Contudo, o somatório do valor de mercado das empresas B2W, Via Varejo e Magazine Luiza já chega a quase 220 bilhões.

Ainda que esta comparação entre tamanho do mercado e valor de mercado das empresas não seja direta, ela nos dá uma dica a respeito do exagero presente nas cotações. Basta você refletir a respeito das baixíssimas margens praticadas neste setor. Não se esqueça também que o setor é naturalmente fragmentado.

Seja tal exagero fruto da migração da renda fixa e/ou massificação dos investimentos atrelados a renda variável, o fato é que o investidor comprado em uma ação muito cara deve estar sempre preparado para um recuo dos preços em casos de uma quebra de narrativa.

Se você comprou e surfou essa onda de valorização, parabéns. Caso esteja entrando agora, tome cuidado! O próprio Goldman Sachs estipulou como preço alvo para as ações da Magazine Luíza o preço de R$78, abaixo do seu preço atual. E olhe que tem muita instituição financeira com preços alvos bem abaixo deste patamar.

Marink Martins

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