Após a carnificina!
Ok! Entendo e sou solidário a sua perda em meio a frustração em relação ao pacote fiscal. Há quem culpe o anúncio da reforma do imposto de renda pelo fiasco, mas convenhamos que isso é algo para 2026 e ainda corre um elevado risco de não ser aprovado pelo congresso. Sendo assim, acredito que a carnificina vista na bolsa e na curva de juros era algo fadado a ocorrer. Eu certamente não cogitava tal reação, mas a realidade é algo inescapável.
Sendo assim, é hora de lamber as feridas e ir em frente.
Este é o meu último Comentário de Mercado aqui na MyCAP Investimentos. Foi uma grata e longa jornada que se iniciou em 2014 e que me fez aprender bastante. Corri atrás de muita informação, me aproximei da Gavekal e descobri novas fontes de conhecimento. Dito isso, quero te agradecer pela companhia e pelos "feedbacks" positivos ao longo da última década, te deixando uma sugestão que poderá se provar como um grande catalisador para mercados emergentes em 2025.
Refiro-me a possibilidade de que algo irá ocorrer em oposição ao consenso no que diz respeito à relação cambial entre o dólar americano e o iuane chinês (USD/CNY). Veja abaixo as projeções desta relação cambial feita por diversas instituições para o ano de 2025:
Observe que as projeções para o fim de 2025 variam entre 7,30 (ING) e 8,00 (Capital Economics). Tal expectativa de depreciação está naturalmente associada ao receio de que a implementação de tarifas por Trump sobre importações de produtos chineses irão fazer com que o PBoC (BC Chinês) promova uma desvalorização cambial compensatória.
Neste momento -- um em que vivemos uma espécie de "USA Takes All" -- poucos atribuem elevada probabilidade a uma espécie de "Acordo de Mar-a-Lago", em referência a possibilidade de uma desvalorização coordenada do dólar em linha com o ocorrido em 1985 no evento que ficou conhecido como "Acordo de Plaza". Todavia, não devemos esquecer que (1) o dólar está simplesmente caro demais e não competitivo do ponto de vista industrial, e (2) a China está registrando um inusitado superávit comercial de 1 trilhão de dólares por ano.
Antes que você pense que tal superávit irá colapsar em meio a tarifas a serem impostas por Trump, vale reiterar que somente 15% das exportações chinesas são direcionadas aos EUA. E destes 15%, uma boa parte está associada à exportação de Iphones que é algo em que boa parte do lucro fica com a própria Apple.
Por tudo isso, te convido a levar em consideração a possibilidade de que o principal desejo de Trump não é de impor tarifas, mas sim de sair "bem na foto" como um grande negociador que ele mesmo diz ser (lembre-se do livro: "Trump: The Art Of The Deal"). Um eventual acordo -- onde Trump consiga extrair dos chineses o compromisso de investir diretamente na indústria americana, combinado com uma forte re-precificação do iuane (valorização) -- poderá ser a grande surpresa de 2025.
Observe que, nos últimos dias, Trump disse em sua rede social que conseguiu extrair um acordo com a presidente do México, Claudia Scheinbaum, no qual o México se compromete a "fechar" sua fronteira com os EUA, de forma a impedir a entrada de imigrantes ilegais e de fentanyl (opióides).
Como disse o indicado a Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessen: Trump deseja utilizar a ameaça de tarifas para conseguir extrair melhores condições econômicas para os EUA.
Ainda que esta possibilidade de "Acordo de Mar-A-Lago" seja considerada um evento de baixa probabilidade por muitos, sua materialização poderá ser o catalisador para que mercados emergentes registrem uma "outperformance" análoga ao ocorrido em 2017, durante o primeiro ano do Trump 1 (ver tabela abaixo).
Você poderá continuar acompanhando o meu trabalho nas minhas redes sociais. Muito obrigado pela paciência, compreensão e solidariedade nos momentos adversos de mercado. Mantenha-se VIVO e Amor Fati!
Marink Martins