As aberrações do momento

15/01/2021

Compartilho abaixo alguns gráficos ilustrando quão esticados estão os principais índices de ações dos EUA. Começando pela relação Preço/Lucro da carteira MSCI US. 

Mesmo que você considere que a relação de P/L seja um indicador problemático, observe que outros dados técnicos apontam para o exagero registrado no hemisfério norte. Em particular, chamo sua atenção para o índice de força relativa e também para o fato do preço estar "colado" na parte superior da Banda de Bollinger. 

Ainda no aspecto técnico do mercado, venho chamando a atenção dos assinantes para o fato da relação PUT-to-CALL Ratio estar na mínima. Isto é, o mercado está complacente, evitando adquirir proteção através de PUTs. Além disso, observamos que a média móvel de 200 dias do índice S&P 500 está em uma zona perigosa; sugerindo um processo de reversão à média. 

Um outro dado interessante diz respeito ao fato de que o rendimento dos títulos de 30 anos do governo americano agora está superior do que o rendimento associado a dividendos da carteira MSCI US. 

Há quem diga que desta vez é diferente. O que mais nos chama atenção é a atuação do FED. Observe abaixo as variações no total de ativos do FED e também os eventos que provocaram uma forte reação da autoridade monetária americana. Em dezembro o FED injetou 141 bilhões de dólares nos mercados...

Sabe-se que muitos investidores, buscando proteção contra a expectativa de "debasement" da moeda americana, saíram em busca de commodities. Contudo, observe através do gráfico abaixo que -- excluindo a ações do setor petrolífero -- o segmento das commodities também já está esticado. 

Enquanto isso, as expectativas de inflação não param de subir. Está certo que Jerome Powell disse essa semana -- em evento realizado na Universidade de Princeton -- que ainda é muito cedo para se preocupar com uma elevação na taxa de juros. Todavia, preocupar-se faz parte da natureza dos mercados. 

Um outro fator que nos chama atenção é o fato de que, mesmo com o salto nas taxas dos treasuries, o poder de reação da moeda americana parece bem limitado. 

O leitor deve lembrar daquele famoso texto do Louis Gave em que ele adverte que os EUA estão em uma espécie de Hotel Califórnia dos juros baixíssimos. O país simplesmente não pode deixar a taxa subir pois seu endividamento está na estratosfera, como podemos ver através do gráfico abaixo. Um controle da curva de juros (Yield Curve Control) já está em curso. 

Há sinais de que o pior, no que diz respeito a pandemia, está ficando para trás nos países desenvolvidos. Sendo assim, a execução de um controle artificial da curva de juros poderá ser algo desafiador.

Caso haja um processo de normalização das economias desenvolvidas a partir do verão americano, espera-se uma explosão da demanda por produtos e serviços. Isso deverá ocorrer justamente após o ano em que as famílias americanas registraram o maior salto patrimonial da história, como podemos ver no gráfico abaixo. 

Observe que toda esta grana irá bater de frente com um mercado em que os níveis de estoques estão baixíssimos. Prepare-se para problemas logísticos resultando em aumento de preços. 

Será que o FED irá dar conta de tudo isso. Louis Gave nos chama atenção a respeito do risco de que o FED não conseguirá entregar tudo que o mercado espera. Nesta caso, é possível que a taxa de juros de longo prazo continue subindo. Agora, caso o FED peque por excesso, o impacto deverá ser visto através de um dólar cada vez mais fraco. 


Marink Martins

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