Avaliando a Super Tuesday

04/03/2020

Ontem ocorreu a Super Tuesday! A super "terça-feira" onde os democratas americanos decidem, provavelmente, quem será o próximo candidato a enfrentar Donald Trump. Em ordem de número de delegados, os estados onde ocorrerram os pleitos são California, Texas, North Carolina, Virginia, Massachusetts, Minnesota, Colorado, Tenesse, Alabama, Oklahoma, Arkansas, Utah, Maine, Vermont e American Samoa. Até ontem, Sanders possuia 60 delegados, e Biden, 54. A disputa agora se define entre os dois, com Elizabeth Warren possuindo apenas 8 delegados, e o bilionário Michael Bloomberg com nenhum (por ter entrado na disputa presidencial tardiamente e não ter participado de primárias anteriores). O número a ser atingido por Sanders ou Biden é de 1991 delegados.

Nisto mora a questão das primárias democratas de 2020: derrotado por Clinton em 2016, Bernie Sanders vem, desde então, construindo uma base de militância composta principalmene por eleitores mais jovens e engajados (universitários). A campanha Sanders 2020 abriu seus comitês locais focando em votos latinos e negros no estado da California, o eleitorado que Sanders perdeu para Clinton em 2016. Para se ter uma dimensão do engajamento da campanha de Sanders: só neste ano, ele arrecadou de seus simpatizantes 75 milhões de dólares, mais do que Biden conseguiu em 2019.

A imagem abaixo representa o poder do dinheiro versus o poder da militância: 

O bilionário Michael Bloomberg, às pressas para conseguir apoio, abriu 25 comitês locais na California. Mesmo assim, assim como Elizabeth Warren, deve terminar em terceiro ou quarto lugar, dado as intenções de voto registradas até agora.

Segunda-feira, dois candidatos considerados centristas, Pete Buttgieg, (prefeito de South Bend, Indiana) e Amy Klobuchar (senadora de Minnesota) encerraram suas campanhas e declararam apoio ao ex vice presidente Joe Biden. Esta parece ser uma tentativa deliberada do DNC (Comitê Nacional do Partido Democrata) conseguir aglutinar apoio para Joe Biden contra a euforia da campanha Sanders.

Donald Trump, mesmo (obviamente) não participando das escolhas democratas, vem repetidamente, em seu twitter, dizendo que o Partido Democrata quer "dar o golpe" em Sanders. Até a hipótese de que Biden ou Bloomberg ganhariam os delegados e colocariam Hillary Clinton como a cabeça de chapa já foi cogitada em meios republicanos. Para Trump, é muitíssimo interessante que Bernie vença as primárias, pois será mais fácil combater um adversário mais à esquerda, exaltado como ele, do que um centrista que irá tentar usar o discurso de que Trump é um "extremista". Trump quer sempre vencer usando a emoção e seus discursos inflados - ou seja, por enquanto, Bernie conta com a ajudinha presidencial.

Os resultados mostram que Bernie levou a California, Colorado, Utah e Vermont. Biden conseguiu a maioria em Virginia, North Carolina, Massachusetts e Texas. Bloomberg venceu em American Samoa. Nos outros estados, a apuração ainda não terminou, mas a expectativa é que Biden leve a maioria dos votos. A desistência de Buttigieg e Klobuchar foi muito boa para Joe Biden, que conseguiu levar o Texas, onde se esperava uma vitória de Sanders. Apesar de Biden estar na frente, ainda não podemos dizer se ele será o candidato. Em março, as próximas primárias ocorrem nos estados de Idaho, Michigan, Mississippi, Missouri, Washington, Arizona, Florida, Illinois, Ohio, Georgia e Porto Rico.

Trump pode agora tirar proveito da liderança de Biden e explorar com mais frequência os pontos fracos do mesmo, (como seu filho Hunter Biden, envolvido em problemas com o governo ucraniano). Trump ainda conta com a "vantagem" de Biden ter sido o vice de Obama, e com certeza tentará colar os problemas da administração anterior no candidato. É muito interessante para Trump o seguinte cenário: Biden ganhar as primárias com ajuda dos superdelegados e do DNC - assim Trump pode alegar que o Partido Democrata é "golpista" e não respeita seu próprio eleitorado.

Até a escolha democrata (na Convenção Nacional do Partido Democrata, em 16 de julho) muita volatilidade poderá ainda chacoalhar os mercados, principalmente se Sanders conseguir voltar para a liderança da disputa. 

www.myvol.com.br