BIG SHORT de curto prazo nos EUA

05/01/2020

Tenho uma mensagem importante neste domingo que vai além das tensões associadas ao Irã. Quero falar sobre a possibilidade de um BIG SHORT no curto prazo que poderá pesar nos mercados globais. Antes disso, porém, um rápido recap:

Se você está voltando de férias agora, saiba que os dois primeiros pregões do ano apresentaram uma volatilidade superior aquela registrada ao longo do mês de dezembro.

Dois fatores contribuíram para uma maior volatilidade nesta curta semana de dois pregões:

  • Expressivo corte de compulsório na China (US$100 bi) - contribuiu para o "rally" visto na quinta-feira.
  • Assassinato do general iraniano - contribuiu para uma queda em meio a um pregão bem volátil - com amplitude de 2.000 pontos no IBOV.

O noticiário deste fim de semana me leva a crer que estas questões geopolíticas relacionadas ao Irã deverão continuar afetando os mercados por um tempo um pouco maior. As bolsas no Oriente Médio (elas abrem no domingo) registram baixas refletindo as incertezas do momento.

O meu objetivo neste comentário, entretanto, é argumentar que há sinais de que as ações da Apple (alta de 85% em 2019!) devem recuar nos próximos dias. Não faço esta argumentação somente por razões fundamentalistas, mas, neste momento, principalmente por razões técnicas relacionadas ao salto na volatilidade implícita das opções nos últimos dias.

O gráfico acima ilustra o preço das ações da Apple nos últimos 6 meses. Observe a alta expressiva durante o mês de dezembro (superior a 10%).  

No gráfico acima, a linha azul indica a volatilidade implícita dos contratos de opções da Apple; já a linha vermelha representa a VOL relacionada ao S&P 500. 

Normalmente, quando o preço de uma ação sobe, a volatilidade implícita associada aos seus contratos derivativos cai. Há razões para isso, mas não pretendo aqui entrar em detalhes técnicos. Como podemos ver nos gráficos acima, o preço das ações da Apple bateu US$300 esta semana, levando a empresa a um valuation próximo a estratosfera. Digo isso, pois a empresa negocia com um P/L de 25x enquanto no início do ano o mesmo estava em aproximadamente 15x. Está certo que a empresa está promovendo uma transição para a área de serviços, mas o fato é que o "L" (lucro) já não cresce de forma condizente com o comportamento do preço das ações.

No gráfico acima, a esquerda, observamos um aumento nas vendas (barras vermelhas). Entretanto, o fluxo de caixa operacional da empresa se mantém estagnado ao longo dos últimos anos. Já no gráfico, a direita, observamos que o preço das ações da empresa subiu 85% enquanto o índice MSCI US subiu somente 29%.

Além disso, a empresa vem se endividando e recomprando suas ações. Observe no gráfico acima, a direita, que o "market cap" da empresa subiu bem menos que o preço de suas ações. Isso é um claro sinal de um processo de recompra de ações que, ao longo do tempo, vem reduzindo o número de ações emitidas.

No gráfico acima, a esquerda, podemos ver que o endividamento corporativo nos EUA não para de crescer. A faixa cinza refere-se a região fronteiriça entre "investment grade" e "junk". Teme-se que, em uma eventual recessão, a classificação de risco de muitas destas seja rebaixada. No gráfico a direita, observamos que a participação, em termos percentuais, das 5 maiores empresas do índice S&P 500 (Apple, Microsoft, Amazon, Google e Facebook) superou aquela registrada em 1999!!! 

Um outro fator importante é o fato de que 20% da receita da Apple é oriunda de vendas na China. Mesmo após o acordo Fase 1, as tarifas sobre produtos chineses permanecem em 19,3% versus 3% antes do início das tensões. Não se esqueçam que esta é uma guerra de exaustão; algo que veio para ficar! A guerra sobre o domínio do 5G está só no início!

A forte alta registrada durante o ano de 2019 no índice S&P 500 é, em grande parte, atribuída a valorização nas ações da Apple e da Microsoft. O mais otimista poderá argumentar que, em ano de eleição, os "chapas brancas" não deixarão o mercado cair. Acho o argumento importante e razoável, mas julgo ser difícil evitar uma maior volatilidade no início deste ano, considerando que as ações destas empresas aqui mencionadas andaram demais nas últimas semanas.

Tudo isso, tem um efeito direto no IBOV. Não há como refutar a tese de que vivemos um momento de euforia na bolsa local. Li algo que achei extremamente preocupante, mas que merece ser checado com mais cuidado: parece que 65% dos CPFs na bolsa local tem patrimônio inferior a R$20k! Se isso for verdade, concluo que toda aquela turma que estava especulando com Bitcoins no fim de 2017 veio de vez para a B3.

Você que me acompanha aqui no MyVOL sabe que a minha missão é gerar crescimento SUSTENTÁVEL E REPLICÁVEL. Por isso busco ser cauteloso, tentando te ajudar a preservar o seu patrimônio, as suas conquistas.

Finalizo expressando uma crença de que se o preço das ações da Apple recuar nos próximos dias, o índice S&P 500 deverá fazer o mesmo, podendo trazer o IBOV para um patamar mais próximo do nível de 110.000 pontos. Não podemos esquecer também que aqueles interessados em investir no Brasil terão a oportunidade de comprar R$22 bilhões em ações da PETR3 no dia 4 de fevereiro. Beware a buyer´s strike! (Os compradores poderão resolver fazer um greve, ou, quem sabe, sair de férias por alguns dias!).

Marink Martins

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