Capitulação ou transição?

08/06/2020

Será que os vendidos jogaram a toalha em um movimento conhecido como capitulação ou será que transitamos para um novo ciclo altista nas bolsas globais? As alternativas acima não são excludentes. Contudo, refletir a respeito de qual delas seria dominante é um ato necessário e praticamente inevitável.

Em um movimento de capitulação um determinado evento catalisador contribui para gerar uma onda de zeragem por parte de comprados ou vendidos, gerando assim um movimento com características exponenciais e de grande volume de negociação.

A taxa de desemprego divulgada na última sexta-feira nos EUA é candidata a  tal evento e contribuiu para uma alta expressiva nas primeiras horas do pregão.

Em particular, aqui no Brasil tal alta foi muito forte durante os 90 minutos que sucederam a divulgação do dado econômico. Não foi difícil detectar sinais de desespero dos vendidos durante a abertura dos pregões. Por um curtíssimo momento, o preço das ações da Petrobras PN se desconectou do preço de suas opções; algo sintomático de um momento onde o vendido só quer se zerar e parece nem mais "fazer conta", abrindo assim uma janela de oportunidade para os frios arbitradores.

Por um outro lado, muitos irão argumentar que os mercados estão transitando de um ciclo de baixa para um ciclo de alta devido ao reconhecimento de que a combinação de excesso de liquidez com a percepção de normalização das nossas vidas representam a retomada de um ímpeto altista que se fazia presente no período que antecedeu a pandemia. De acordo com esta visão, a capitulação e a transição representariam forças que se somariam ao invés de se oporem. Evidências que contribuem para esta interpretação podem ser o fato de que os índices de renda variável americanos terem fechado próximos as máximas em um dia de volume recorde; em particular, nas ações listadas no Nasdaq.

A relevância deste debate cresce em importância para os agentes focados no mercado brasileiro, dado que entramos em uma semana curta, com somente quatro dias de pregão que antecedem um vencimento de opções que está fadado a registrar um dos maiores volumes já registrados aqui no Brasil.

Algumas casas de pesquisas lançaram relatórios otimistas sinalizando uma retomada do Ibovespa para níveis vistos no início do ano. Ao mesmo tempo, um famoso gestor exclamou: "a bolsa está ridiculamente barata!"

Do outro lado, o cético buscou ânimo através de relatos de que os dados associados a criação de emprego nos EUA foram inflados devido a uma tecnicalidade do BLS - agência norte-americana responsável pelo indicador econômico.

Para não deixar o leitor que chegou aqui sem qualquer direcionamento, reitero aqui a minha preferência para o que muitos chamam de "hard assets". Refiro-me aqui não só a empresas ligadas a commodities, mas também aquelas que possuem um elevado percentual de seus ativos classificados como permanentes. As ações de tais empresas já vem registrando ótimos ganhos frente as ações de empresas mais especulativas como aquelas associadas ao varejo digital. Acredito que, independente do ocorrido nesta sexta ter representado um movimento de capitulação ou transição, esta tendência de valorização relativa é uma que tende a se intensificar.

Marink Martins

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