Compreendendo a disrupção no preço do petróleo

23/04/2019

A semana se iniciou com a surpreendente notícia de que os EUA não renovarão as isenções ("waivers") concedidas aos países que as solicitaram em maio de 2018, alegando uma dependência do petróleo iraniano. A lista de países agraciados com tal isenção é a seguinte: China, Índia, Japão, Itália, Grécia, Turquia, Coréia do Sul e Taiwan.

Com isso, o preço do petróleo brent subiu mais de 3% e, como sempre acontece nestes casos, traz consigo preocupações associadas a uma possível elevação na inflação.

Dentre os contratos negociados, uma parte é monitorada e classificada como especulativa. Estes naturalmente não pertencem aos produtores nem aos hedgers (linhas aéreas e outros). Entre os especulativos estão os fundos de hedge especializados neste segmento. Como podemos observar, houve uma maior demanda por parte destes especuladores nos últimos meses. 

Os estrategistas da Gavekal acompanham tudo de perto e não se mostram muito preocupados no curto prazo; embora não descartem de maneira alguma um movimento especulativo que possa fazer com que o preço do Brent supere a barreira de US$80/barril.

A matemática apresentada é a seguinte:

  • Produção atual do Irã: 1.3 milhões de barris.
  • Ociosidade ("spare capacity") da Arábia Saudita, Emirados Árabes e Kuwait: 2.5 milhões de barris.

Assim, há uma expectativa de que os membros da OPEP irão sinalizar uma maior produção em sua reunião de junho. A Rússia, que embora não seja membro da organização, se mantém alinhada com suas diretrizes e já manifestou interesse em aumentar sua produção.

Um outro fator que não devemos, de forma alguma, deixar de lado, refere-se ao fato de que Trump não fará nada que vá assustar o mercado nesta reta final em busca de sua reeleição. Sabe-se que atualmente a economia americana exibe uma elevada sensibilidade ao humor visto no mercado de ações. Estima-se que uma queda de 10% no índice S&P 500 provoque uma contração no PIB norte-americano de 1%! (se você não se chocou com esta informação, leia novamente!)

Sendo assim, imaginar que a alta no preço do brent registrada ontem - fruto de uma entrevista de Mike Pompeo e ratificada via twitter de Trump - será algo que irá tirar a economia americana do rumo parece ser insensato. A impressão que temos é que está tudo combinado com os russos e árabes!

Dito isso, as oscilações de curto prazo estão sempre sujeitas a ruídos. O Irã, naturalmente, irá tentar retaliar ameaçando fechar o estreito de Ormuz, e, talvez, ameaçando seus vizinhos. Mas, como informa alguns estudiosos sobre o assunto, provavelmente será um esforço em vão dado o poderio norte-americano na área. Além disso, qualquer retaliação por ar, poderá resultar em ataques destrutivos ao próprio Irã.

Todo este assunto é muito fascinante. No livro de Louis-Vincent Gave que estou traduzindo, uma das condições para que um país seja detentor de uma moeda de reserva global - como é o caso do dólar americano - é ter o domínio das linhas marítimas. Só há um país que talvez possa fazer frente aos americanos; e este é a China.

Mas, e o que falar sobre o "E agora Petrobras?" - tema do podcast que lancei através da Inversa Publicações?

As ações da Petrobras chegaram a cair ontem, apesar da euforia vista no mercado externo associada a alta no Brent. Suponho que a causa principal era o receio da greve anunciada pelos caminhoneiros para o dia 29/4.

Ontem, entretanto, um acordo foi fechado junto aos representantes da classe, afastando a possibilidade de uma parada no curto prazo. A solução veio através de algumas flexibilizações; entre elas, uma espécie de indexação do preço do frete ao preço do diesel.

Assim, é possível vermos preços mais elevados para as ações da Petrobras nesta terça-feira.

Marink Martins 

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