Compreendendo "momentum"

04/02/2019

Embora já tenha mencionado este termo em inúmeras ocasiões por aqui, considero ser esta uma boa hora para discutirmos um pouco a razão de sua existência.

O termo "momentum" quando utilizado nos mercados refere-se a uma expectativa de que o preço de determinados ativos irá seguir uma tendência pré-estabelecida. Muitas vezes me refiro ao termo como uma tendência de que o que está dando certo, continue a dar certo; com o oposto também sendo verdadeiro.

Neste texto, entretanto, gostaria de focar no que realmente está por trás deste que se tornou um dos principais atributos no mundo de investimentos nos últimos anos. Para muitos, "momentum" é uma palavra que define uma das principais classes de ações - as outras sendo "value", "growth" e "size".

Neste sentido, vale focarmos no trabalho do premiado autor do livro Dual Momentum Strategy - Gary Antonacci. Os clientes da MyCAP já tiveram a oportunidade de me ver falando sobre esta obra em algumas das palestras já realizadas.

Indo direto ao ponto, Antonacci busca explicar a existência deste ímpeto chamado "momentum" através da imagem abaixo:

O que podemos ver aqui é o seguinte:

Na linha azul temos uma "real" mudança de valor provocada por algum evento estrutural. Por exemplo, uma "canetada" do governo que favoreça a expansão de crédito na economia traz como consequência uma percepção de maior valor para as ações do setor bancário.

na linha vermelha temos a forma como tal alteração na percepção de valor é interpretada pelo mercado levando em consideração o tempo. E aqui, Antonacci faz uso de diversos vieses cognitivos utilizados no campo das finanças comportamentais como ancoragem, assimetria de informação e efeito manada para explicar a existência deste fenômeno hoje conhecido como "momentum".

Ao observar a imagem, vemos que primeiramente temos um evento catalisador capaz que provocar uma mudança de percepção. Em seguida, temos a formação de uma tendência; seja ela de alta ou de baixa.

Observe que no início deste ciclo há o que ele denomina como "under-reaction" (uma reação contida) pois muitos investidores encontram-se "ancorados" em conceitos pré-existentes. Ainda sobre o setor bancário, investidores ficam ancorados ao fato de que, de acordo com as premissas anteriores, o múltiplo de lucro pelo qual o ativo está sendo negociado aparenta ser exagerado.

Eu mesmo, venho aqui, afirmando que as ações de instituições como Itaú e Bradesco parecem estar caras demais pelo fato de que seus múltiplos de preço/valor patrimonial estarem bem acima da média histórica. É possível e provável que eu esteja "ancorado" nestes princípios e esteja ignorando uma mudança que já está em curso.

Assim, o próprio reconhecimento desta possibilidade e a existência deste e de diversos textos e comentários neste sentido podem, minimamente, contribuir para um estágio que mais tarde poderá ser ilustrado por um "efeito manada" onde diversos investidores, tardiamente, viram-a-mão e reconhecem a tal mudança de premissa. Neste momento, a reação do mercado tende a ser mais exagerada ("over reaction").

Refere-se a este atraso no reconhecimento de mudança de premissa a uma combinação de assimetria de informação (a informação circula de forma seletiva) e um pouco de teimosia.

De volta a imagem acima, o mais importante aqui é buscar detectar em que momento estamos em um determinado ciclo, algo que certamente não é trivial.

Há indícios de que estamos bem no início. Há indícios de que muitos, em particular os estrangeiros, ainda não reconheceram as mudanças de premissas em vigor.

Dito isso, não posso deixar de pontuar aqui que embora esta discussão seja fascinante, só temos uma melhor clareza quanto a tudo isso, depois que tudo ocorre - a posteriori.

É fácil olhar para o gráfico dos últimos 7 anos da Cielo e identificar as diversas fases deste ciclo. Difícil mesmo é achar um consenso se as premissas que dão sustentação a este início de "bull Market" brasileiro são realmente válidas.

Marink Martins

www.myvol.com.br