Crescente divergência entre resultados oficiais e ajustados

29/11/2019

Um tema recorrente discutido entre analistas norte-americanos é a crescente divergência no que diz respeito aos resultados divulgados pelas empresas de acordo com princípios contábeis "oficiais" (GAAP) e os não-oficiais (non-GAAP).

O acrônimo GAAP se refere a "generally accepted accounting principles" (princípios contábeis aceitáveis de acordo com normas pré-estabelecidas).

O gráfico acima, embora somente até 2015, ilustra muito bem a crescente divergência entre os resultados oficiais - GAAP (barras azuis) e os ajustados - Non-GAAP/Pro Forma (barras vermelhas). 

Isso é um tema de suma importância para todos os analistas globais. Aqui no Brasil as empresas são obrigadas a divulgar os seus resultados de acordo com padrões internacionais estabelecidos pela IFRS. Mesmo assim, há também por aqui um uso abusivo de ajustes contábeis para itens não-recorrentes. Reitero que o investidor deve ficar atento ao uso de diversas formas de divulgar lucros ajustados; seja isso feito através do uso de EBITDA ajustados, resultados pro-forma, e muitas outras alternativas. É importante também que o investidor entenda o que é "impairment" e como isto está associado a ativos intangíveis.  

Dito isso, um estudo recém-publicado nos EUA indicou que 97% das empresas pertencentes ao índice S&P 500 fizeram uso de ajustes para itens não-recorrentes no ano de 2019. Isso se compara com um percentual bem menor registrado no ano de 1996 (59%).

Na mesma reportagem, menciona-se o recente caso da empresa We Work que promovia diversos ajustes ao seu EBITDA, de forma que seu "valuation" chegou a atingir o insano patamar de US$50 bilhões. Uma vez reveladas diversas temeridades em tais ajustes, a empresa teve que cancelar o seu IPO e seu valor de mercado colapsou para US$8 bi.

Curiosamente, já faz bastante tempo que uma fraude contábil de grande escala não é revelada nos EUA. Lembro-me bem que nas duas décadas anteriores tínhamos uma grande fraude a cada cinco anos. Será que esta ausência de fraude tem a ver com o excesso de liquidez nos mercados?

O fato é que o ser humano sempre abusa. Tais abusos tendem a se tornar evidentes na fase final das expansões econômicas. Aqui vale lembrar da crise das cadernetas de poupança nos EUA no fim dos anos 80 ("S&L crisis"), da Enron, Tyco, Worldcom no início do milênio, do Bear Stearns, Lehman, AIG, Sadia, Aracruz e muitas outras, em 2008. O que será que está por vir?

Um bom fim de semana a todos,

Marink Martins

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