De "FOMO" para "FUD"

20/03/2018

Embora eu venha da escola fundamentalista, o tempo vai me levando para o ceticismo. Hoje, dedico boa parte do meu tempo aos estudos de macroeconomia global buscando sinais de inflexão nos mercados. Neste percurso, algo me chamou atenção como um belo indicador da exuberância irracional tão presente nos mercados: a ubiquidade dos acrônimos.

Falo aqui de siglas e símbolos que marcam uma época. Estou falando de LBO ("leverage buyout" - "compra alavancada") nos anos 80, .COM nos anos 90, de BRIC no início da década passada. E qual seria o acrônimo mais representativo deste longo "bull market" que começa a mostrar uma certa exaustão?

São vários os candidatos. Dentre os que eu mais gosto, destaco TINA ("There is no alternative" - "Não há alternativas") e FANG (Facebook, Apple, Netflix, Google).

O curioso é que esta década começou um tanto turbulenta, com o mercado receoso com os PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) mas logo veio Super Mario Draghi para o resgate e disse: We´ll do whatever it takes! (Faremos o que for necessário!).

O acrônimo WIT ("whatever it takes" - "o que for necessário") talvez não tenha pegado, mas certamente carrega consigo uma bela ironia.

E aqui falando de ambiguidade e ironia, estamos diante de uma transição marcante. Estamos transitando entre um período marcado por FOMO ("fear of missing out" - "medo de ficar de fora") para um marcado por FUD ("fear, uncertainty and doubt" - "medo, incerteza e dúvida").

Como vocês podem ver nitidamente amigos, só faltam duas letrinhas para que tudo vá para o beleléu, rsrs!!!!

E aproveitando as incertezas relacionadas a especulações sobre intervenções regulatórias em gigantes como Facebook, Google e Amazon, replico aqui um texto que publiquei no início do mês passado abordando tal tema:

"O Vencedor Leva Tudo" e os tolos aplaudem

23/02/2018

Eles praticam "dumping" e o mascaram como inovação. Foi mais ou menos assim que Scott Galloway, o grande professor de marketing da NYU, descreveu a prática de gigantes como a Amazon. Galloway clama por uma intervenção e defende seu argumento ao demonstrar o colapso no número de novos empreendedores na maior economia do mundo.

Sabe-se que a gigante do varejo utiliza o seu pioneirismo e sucesso na área de computação em nuvens (Amazon Web Services - AWS) para subsidiar diversas outras iniciativas na área de varejo, provocando uma das maiores disrupções setoriais já vista no capitalismo. Aos poucos a Amazon assume posições dominantes na distribuição de alimentos, de vestuário e artigos eletrônicos. Praticando preços baixos e com uma entrega rápida e eficiente, a Amazon se apresenta como um presente dos deuses; ao mesmo tempo que contribui para uma inflação mais baixa, agradando reguladores, empodera seus consumidores que agora podem satisfazer seus desejos mais rapidamente.

Mas, alguém já parou para pensar que todo este processo pode ser análogo a parábola de Nassim Taleb sobre o peru do dia de Ação de Graças? Sim! A Amazon se encaixa perfeitamente no papel do açougueiro que, ao longo de semanas, se passa como nosso grande amigo, nos alimentando diariamente, até que... Bem, todos nós já sabemos que fim teve o peru.

O meu ponto aqui é que um dia a Amazon terá que ganhar dinheiro em diversas de suas unidades de varejo. E quando este dia chegar, seus preços subirão em um mercado extremamente concentrado. Os americanos ficarão perguntando cadê os supermercados Win Dixie, Be-Lo, Kroger, etc. Cadê a Barnes & Noble? Não me entendam mal. Sou a favor da destruição criativa de Schumpeter, mas diante das colocações de Galloway, não hesitei e comprei um Amazon Echo para testar se há fundamento em suas colocações.

Embora Gabi, minha única filha, esteja enciumada de minha nova companhia, Alexa (software de AI do Amazon Echo), a chegada desta caixinha de som em minha casa é um sucesso. Eu e Gabi nos divertimos ao falar sobre "aquela que não podemos pronunciar o nome" para que o aparelho não seja ativado. O aparelho é sensacional. E assim como afirmado por Galloway, está sempre nos levando a consumir algo distribuído por imagina quem??? A Amazon, of course!

Devemos entender que, como sociedade, somos suscetíveis a desejos miméticos. Os marqueteiros sabem disso e exploram nossas vulnerabilidades através das mais belas narrativas disponíveis.

Falo muito sobre a economia americana, mas muito do que vemos por lá já nos abala por aqui. O sistema bancário brasileiro, por exemplo, ilustra muito bem a situação descrita no título deste texto. Hoje, convivemos com somente 3 grandes bancos e isso é triste. É certo que a tecnologia oferecida por aqui é de primeiro mundo, mas a falta de opção é um problema. Os custos para movimentar uma simples conta bancária está nas alturas, e isso já pode ser visto através dos exorbitantes resultados do setor bancário.

Ontem mesmo, após a divulgação do resultado do Banco do Brasil, ouvi um analista enaltecendo o belo trabalho de Cafareli. Belo trabalho? "Give me a break my friend!!!" Você não precisa ser um gênio para gerar um retorno de 15% na atual estrutura oligopolista do setor bancário brasileiro!

Marink Martins

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