De olho na correlação!
No início de agosto escrevi um comentário no qual tomei emprestado a famosa expressão americana -- It´s the economy, stupid! -- e a transformei em "É a correlação, idiota", em uma brincadeira em que eu buscava ilustrar que uma das principais razões para que a volatilidade do índice S&P 500 se mantenha tão baixa é devido a baixa correlação setorial dentro deste que é o índice de ações mais acompanhado no mundo. Estou de volta aqui reiterando o mesmo ponto por algumas razões. Primeiramente, pelo fato de estarmos em setembro, mês que historicamente é o mais volátil do ano. Segundo, pelo fato do risco geopolítico estar crescente, sem qualquer contrapartida na volatilidade medida pelo VIX. Abaixo, trago uma tabela do Chicago Board of Exchange (CBOE) ilustrando o JCJ e KCJ que são medidas de correlação entre as ações que integram o S&P 500. Ao comparar estes números com o gráfico de correlação inserido no Comentário que fiz no dia 7/8 (ver abaixo), você verá que a correlação vem caindo. Já imediatamente abaixo desta tabela do CBOE, o que temos são os 10 setores do S&P 500 em um gráfico de 5 anos. Note que há claramente uma crescente dispersão entre os retornos destes setores, confirmando assim uma menor correlação global.
Na semana passada, no belo evento organizado pela B3 em Campos de Jordão, o professor da Universidade de Chicago Luigi Zingales disse que os EUA não estão tão bem quanto o mercado de ações parece indicar. Seus argumentos baseados em uma maior concentração econômica nas mãos de um menor número de empresas, entretanto, soaram para mim, de forma paradoxal, como justificativas para uma continuidade do ciclo de alta na bolsa. De qualquer forma, creio que é possível fazer um paralelo de sua colocação e dizer o seguinte com base em meus comentários sobre a correlação entre os componentes do S&P: O MERCADO AMERICANO NÃO ESTÁ TÃO CALMO QUANTO APARENTA.
Enviado em 7/agosto/2017
É a CORRELAÇÃO, idiota!
Tomo emprestado o formato da famosa expressão do estrategista da campanha presidencial americana de 1992 (It´s the economy, stupid), aquela dita por James Carville e que levou Bill Clinton ao poder, para fazer uma brincadeira e explorar uma tese sobre o porque da volatilidade do índice S&P 500 estar tão baixa. Tal volatilidade, medida pelo, por aqui já famoso VIX, vem registrando novas mínimas históricas (abaixo de 10%) e deixando muitos analistas confusos e receosos de que agentes de mercado possam estar demonstrando um elevado grau de complacência. Sem desmerecer de forma alguma a tese sobre a complacência presente nos mercados, noto ao assistir diariamente a programação da CNBC, que muitos analistas comentam sobre o VIX sem sequer mencionar um fator determinante em seu cálculo: a correlação entre as partes. Enquanto a volatilidade implícita associada a opções de uma determinada ação (da Apple, por exemplo) é um resultado direto de expectativas do mercado quanto a futuras oscilações de preço destas ações, a volatilidade implícita associadas a opções de um determinado índice (do índice S&P 500, por exemplo) deriva não só de expectativas de oscilação futura no preço das ações de seus componentes, MAS TAMBÉM da correlação futura entre tais preços. E ao pensar nisso e analisar de perto a atual situação, é possível concluir que boa parte do recém achatamento do VIX pode ser atribuído a recente queda em tal correlação. Os gráficos a seguir são ilustrativos de tal movimento:
Tais gráficos foram preparados com base em informações fornecidas pelo CBOE e ilustram o comportamento do índice S&P 500, da Correlação entre seus componentes, e o VIX, desde novembro/2015. De uma forma crua, é possível olhar para a volatilidade implícita das opções das 20 maiores empresas do S&P e concluir que suas respectivas "VOL" estão relativamente próximas aos mesmos níveis registrados há um ano (talvez um pouco mais baixas). Mesmo que haja uma queda, esta é certamente inferior àquela registrada pelo VIX. Diante de tal constatação, resta ao mercado a solução de um outro enigma: Por que encontra-se tão baixa a correlação entre os componentes do índice S&P 500? Tal pergunta é certamente complexa, e dado que tal nível de correlação é a mais baixa de sua série histórica, especulo que, em parte, seja fruto do maior uso de ETFs por investidores americanos. (este é somente o meu chute!) A verdade é que, de um tempo para cá, o mercado americano vem vivendo um movimento de rotação setorial muito forte; algo tipo, sai tech entra bancos, sai bancos entre petrolíferas, sai petrolíferas entra biotech, sai biotech entra tech, e por aí vai. De qualquer forma, concluo este Comentário convidando o leitor mais curioso a olhar para os dados de correlação publicados diariamente pelo CBOE como uma forma de se obter uma melhor compreensão sobre o atual momento da bolsa americana.
Marink Martins, CNPI