"Debasement"

10/02/2021

Essa expressão anglicana refere-se a perda de valor relativo de uma determinada moeda resultante de uma maior emissão da própria.

Pode-se dizer que a expectativa de desvalorização do dólar é hoje um dos principais motores impulsionando os mercados - seja ele de renda variável, de commodities, ou mesmo, de criptomoedas.

Ao medir a emissão de moedas por um determinado banco central, normalmente nos referimos ao agregado monetário M2, que é uma medida que inclui o M1+ depósitos de curto prazo. O M1 refere-se a papel moeda mais aquele dinheiro parado nos bancos sem rendimento algum.

Em valores aproximados, o M2 dos EUA cresceu de 15,5 trilhões de dólares no período pré-pandemia para os atuais 19,2 trilhões de dólares - um brutal aumento de 24%, conforme podemos ver no gráfico abaixo.

Tal aumento vem impulsionando narrativas especulativas análogas àquelas vistas durante a valorização das ações do Nasdaq durante o fim dos anos 90.

A grande questão é: será que os EUA irão continuar a imprimir moeda a um ritmo superior a 10% ao ano nos próximos anos?

Com o endividamento americano bruto superando o valor do PIB, especula-se que o FED, em parceria com o Tesouro, irá manter a taxa de juros de longo prazo artificialmente baixa, nos moldes do ocorrido no período que sucedeu a segunda guerra mundial.

Embora eu não tenha uma resposta à pergunta acima, acho válido olharmos para um país que, ao longo dos últimos dez anos, expandiu seu M2 a uma taxa de aproximadamente 10% ao ano. Refiro-me ao Brasil que viu seu M2 sair de 1,2 trilhão de reais em 2010 para 3 trilhões no período pré-pandemia.

Ao olhar para a experiência brasileira, vejo que, entre 2010 e 2020, o preço de um carro popular subiu a uma taxa de aproximadamente 6% ao ano. O valor de uma mensalidade escolar subiu 6,5%/ano. Já o preço de um imóvel em Ipanema subiu a uma taxa de 4,13% ao ano. Essas variações não representam índices oficiais ou médias, mas sim observações de casos específicos feitas por mim.

Um outro indicador relevante - o valor do IBOV - saiu de aproximadamente 68.000 para 118.000 no período pré-pandemia -- uma taxa de crescimento anual de 5,66%.

Em suma, o que busco transmitir aqui é que a experiência brasileira, embora tenha provocado um expressivo "debasement" de nossa moeda (de 2 reais para 4 reais por dólar), não se provou uma razão para sairmos comprando ativos de forma desenfreada.

Naturalmente, enfrentamos problemas sérios e fomos forçados a elevar a taxa de juros para níveis elevadíssimos. Algo que, provavelmente, não ocorrerá mais devido a tal dominância fiscal que não só afeta o Brasil, mas também todo o mundo desenvolvido.

Nos EUA, o M2 cresceu a uma taxa de 5,6% entre 2010 e o período pré-pandemia. Já o índice S&P 500 valorizou 9,10% no mesmo período. Já no período da pandemia, a valorização foi de 15%.

A inovação tecnológica americana não só transformou a economia do país e do mundo, mas também serviu para atrair boa parte da poupança global. Hoje, os estrangeiros têm 40 trilhões de dólares em ativos americanos.

Por tudo isso, creio que os investidores devem ser criteriosos em meio às diversas narrativas e premissas ventiladas por aí. Caso o FED, em algum momento nos próximos 18 meses, venha a pivotar, poderemos ter um baita choque de realidade -- algo que, neste momento, parece estar sendo completamente ignorado pelos agentes de mercado.

Marink Martins

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