Desejos miméticos retardados

14/08/2019

Vou direto ao ponto antes que o assinante ache que irei me alongar em teorias comportamentais. Chegou ao Brasil - não faz muito tempo - uma obsessão por avaliar empresas, não por seus fundamentos presentes (P/L, ROE, ROIC, etc), mas sim por seu potencial em termos de TAM, SAM e SOM!

TAM é uma sigla em inglês para "Total Addressable Market". SAM quer dizer "Serviceable Addressable Market" e SOM quer dizer "Serviceable Obtainable Market".

As três siglas estão relacionadas. Todas se referem ao potencial de mercado para empresas disruptivas. Como ocorre frequentemente, tais acrônimos não chegam a ser uma novidade, mas passam a ocupar uma posição de destaque em ciclos de alta nos mercados.

A sigla TAM talvez não tenha sido utilizada na análise de Globocabo na virada do milênio, mas era certamente o principal argumento daqueles que apostaram na empresa que, durante a época, representava uma alternativa nasdaquiana no mercado brasileiro.

Abordo este tema pois ouço com frequência o mesmo argumento inserido em narrativas otimistas associadas a empresas como Magazine Luiza, Banco Inter, e outras da moda, no mercado brasileiro.

Contudo, o que vi ao ler as notas explicativas associadas as demonstrações financeiras de MGLU3 foram utilizações de artifícios pro forma e uso de eventos não-recorrentes que, justos ou não, contribuíram para uma visão que, pode ou não, ser distorcida da realidade da varejista brasileira. Que a empresa avança não há dúvidas. Todo meu questionamento gira em torno de sua precificação no mercado.

Dito isso, ao checar os dados relacionados a empréstimos de ações de MGLU3 na B3, vejo um comportamento normal onde a taxa ponderada de empréstimo está por volta de 1,7% ao ano, e o total de contratos em aberto representa aproximadamente 4% da quantidade de ações em circulação.

Espero que o assinante entenda que o meu ponto neste texto está mais associado ao comportamento do investidor do que ao fundamento das empresas mencionadas. Tais empresas podem até representar uma bolha, mas o fato é que eu não disponho de conhecimento específico para fazer tal declaração.

Dei o nome ao título deste texto de desejo mimético retardado levantando a hipótese de que haja uma imitação tardia no comportamento do investidor brasileiro. No fundo, todos buscamos ser -- ou pelo menos obter os mesmos retornos -- como os investidores do Vale do Silício.

Observe que essa ambição também se faz presente no mercado de opções doméstico.

Esta semana a Empiricus -- empresa que estou indiretamente associado através da minha parceria com a Inversa Publicações - fez uma recomendação para que investidores comprem um contrato de opção de compra, de longa duração, associada ao ativo PETR4. Como podemos ver através de dados publicados pela B3, tal recomendação levou mais de 1.000 investidores as compras, gerando um volume de aproximadamente R$2,5 milhões em prêmios.

O que é curioso no comportamento destes novos investidores é que eles carregam suas opções até o fim do ciclo, independente do fato de que, em algumas situações, o contrato passe a negociar com uma volatilidade implícita absurda -- algo que deveria ser uma ótima razão para que a operação fosse finalizada antecipadamente. Mas, o fato é que isso não vem ocorrendo. O número de titulares se mantém próximo a estabilidade durante toda a vida do contrato. Na minha opinião, os investidores ficam ancorados ao conceito de assimetria convidativa mesmo em casos em que tal assimetria deixa de ser interessante por fatores técnicos. Mas, em bull markets, fazer conta da muito trabalho!

Marink Martins 

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