Diferenciando o atual momento nas bolsas americanas

18/07/2017

É natural que após um período de oito anos de alta nos principais índices de renda variável nos EUA que cresça o número de pessimistas clamando por uma correção nos preços dos mesmos. Afinal, é necessário um tempo para que os agentes de mercado superem suas tendências inatas a reversão à média e incorporem dados de uma nova realidade. E o que seria esta nova realidade? Mais importante do que o fato de estarmos vivendo um período inusitado de juros baixíssimos, entramos em um período onde o casamento entre o uso eficiente de novas tecnologias e capital produzem um efeito "The winner takes all" (o vencedor leva tudo) como nunca antes visto. Uma evidência deste fenômeno está na dificuldade em escrever sobre este atual momento sem mencionar a empresa Amazon. O terceiro "Prime Day", ocorrido há dias, gerou aproximadamente US$1 bi em vendas, superando os já consagrados "Black Friday" e "Cyber Monday". E o curioso é que, embora tal receita impressione, ainda é um número tímido quando comparado aos US$18 bi em vendas obtidos no "Singles Day" realizado todo dia 11 de novembro na China. Por lá, o fenômeno é dominado por uma outra gigante; a Alibabá. Assim como a Google viu sua marca se tornar um verbo, não é raro ouvir o nome Amazon sendo utilizado como um verbo na forma de particípio (Amazoned), em uma referência ao fato de que varejistas tradicionais estão sendo dizimados pela concorrência ferrenha da gigante do setor. Mas a empresa vai muito além do varejo. Especula-se que quase metade de seu valor de mercado seja atribuído a Amazon Web Services (AWS), que lidera o segmento de "cloud services". E é nessa área onde cresce o ímpeto de outra gigante, atualmente muito menos "badalada" que suas concorrentes; a Microsoft. Nesta área, sua divisão "Azure" vem ganhando espaço e vem fazendo com que a AWS tenha que cortar preços continuamente como forma de preservar sua participação de mercado. Para Jim Cramer, o famoso comentarista do programa "Mad Money" da CNBC, a Microsoft é uma "gigante esquecida" entre as "big caps" e seu crescimento tende a impulsionar o setor de tecnologia a patamares mais elevados. Recentemente, o Credit Suisse atribuiu um preço alvo de US$84 para as ações da Microsoft, enquanto o UBS indicou um preço alvo de US$1.200 para as ações da Amazon. Tais recomendações sinalizam um espaço de apreciação da aproximadamente 20% para ambas. 


Um outro fator importante de diferenciação do atual momento em relação a outros períodos de euforia está relacionado a uma certa apatia vista recentemente em relação a empresas fazendo IPOs. Embora a SNAP, dona do aplicativo Snapchat, tenha empolgado nas primeiras semanas de negociação, o mercado a abandonou e jogou suas ações para um patamar 20% inferior ao seu preço de lançamento. O próprio Morgan Stanley, participante do "underwriting" que a levou ao mercado, já virou as costas e promoveu um "downgrade" para suas ações. Tal fenômeno, por si só, não surpreende, mas a resiliência do mercado diante do ocorrido é certamente um sinal positivo. No caso da SNAP, o receio de que a Facebook possa rapidamente eliminá-la vem afastando potenciais compradores para suas ações. Um outro exemplo que ratifica os meus dois argumentos descritos acima foi o recente IPO da empresa Blue Apron, especializada em entregas de kit-refeição com ingredientes crus pelo correio; um segmento ainda não muito explorado no Brasil. Por representar um certo modismo, já havia um enorme ceticismo com relação a seu IPO. Não deu outra, e esse foi um fiasco. Nos últimos dias, a Amazon informou que estaria entrando neste segmento via sua mais recente aquisição, a Wholefoods, e a Blue Apron foi simplesmente "amazoned"! Tudo isso é bem diferente do que ocorria em outras épocas. Lá atrás, no ápice da bolha do Nasdaq, o IPO da Red Hat ocupara as manchetes dos principais jornais com suas ações subindo 200% em um único dia! 


Não quero aqui, de forma alguma, argumentar que as bolsas americanas estejam baratas e que não haja chance alguma de um recuo mais forte no preço das ações. Ontem mesmo ouvi analistas na CNBC debatendo sobre as ações da Visa e argumentando que, embora a empresa esteja caminhando muito bem, seu "valuation" de 28x o lucro projetado para o próximo ano os deixavam de fora à espera de uma oportunidade de entrada mais atraente. Estamos em um período de férias nos EUA, marcado por volumes menores e volatilidade restrita. Acredito também que a queda na popularidade de Trump seja um catalizador para que o governo tente acelerar a aprovação de aguardadas reformas, tanto a tributária como a de repatriação. Por tudo isso, é bem provável que o índice S&P 500 continue a se mover lentamente em direção do nível de 2.500 pontos. 


Marink Martins, CNPI

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